Nos
Estados Unidos da América, por detrás das máquinas partidárias estão os “bosses”, que, na
sombra, angariam votos e financiamentos, e determinam o jogo do Poder. O boss,
para além de ser um empresário político capitalista, que angaria votos por
sua conta e risco, é indispensável para a organização do partido, que ele
centraliza nas suas mãos. O boss constitui a principal fonte de meios
financeiros, que consegue, em parte, mediante as contribuições dos membros; e,
sobretudo, por meio da taxação dos salários dos funcionários que chegaram ao
cargo através dele e do seu partido. Outras fontes de rendimento passam pela
corrupção e pelas gratificações. Quem quiser infringir impunemente alguma das
numerosas leis, precisa da conivência do boss e tem que pagar, sem o que
se arrisca a sofrer consequências muito desagradáveis. O boss não tem
“princípios” políticos sólidos, carece totalmente de convicções e só quer saber
como se podem conseguir os votos. Não é raro que seja um homem inculto. Mas a
sua vida privada costuma ser correcta e irrepreensível. Naturalmente, os bosses
opõem-se com unhas e dentes a qualquer outsider (alguém de fora) que
represente um perigo para as suas fontes de Poder e de dinheiro. O boss é
também indispensável como receptor imediato do dinheiro dos grandes magnatas financeiros.
Estes não confiariam de modo algum o dinheiro que dão com fins eleitorais a um funcionário
assalariado ou a um homem que tem de prestar contas publicamente. O boss, com
a sua prudente discrição em questões de dinheiro, é decerto o homem dos
círculos capitalistas que financiam as eleições. O boss típico é um
homem absolutamente cinzento ou apagado. Não busca o prestígio social; pelo
contrário, o “profissional” é desprezado na “boa sociedade”. Busca exclusivamente
o Poder, como meio de conseguir o dinheiro (fonte monetária), mas também pelo Poder
em si. Diferentemente do leader inglês, o boss americano trabalha
na sombra. Raramente é ouvido a falar; sugere aos oradores o que oportunamente
devem dizer, mas cala-se. Regra geral, não ocupa nenhum cargo, a não ser o de
senador no Senado Federal. Porque, como constitucionalmente os senadores
participam no Poder de distribuição dos cargos, é frequente que o próprio boss
se junte, pessoalmente, a esta corporação. A atribuição dos cargos faz-se, em
primeiro lugar, de acordo com os serviços prestados ao partido. Isto não impede
que também se entreguem, em muitos casos, a troco de dinheiro, e até já existem
quantias fixas como preço de determinados cargos. Em definitivo, trata-se de um
sistema de venda dos cargos, semelhante àquele que, durante os séculos
XVII-XVIII, conheceram as monarquias europeias. Para combater este problema, os
EUA tentaram diminuir o número de cargos objecto de “despojo eleitoral”, atribuindo-os
a pessoas com formação, mediante provas de capacitação. Esta parece ser a
solução mais sensata para combater este tipo de corrupção legalizada (Weber,
1979: 63-66; 2005: 95-96, 99-100).
Assim
como existem e actuam nos Estados Unidos da América, os “bosses” estão presentes noutros países como na Guiné-Bissau: agem
nas sombras, comprando e vendendo lugares e influenciando indirectamente
aqueles que dão a cara nos órgãos de Poder.
Para
mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma
de Governação na Guiné-Bissau (pp. 84-85). Lisboa: Chiado Editora.
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