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domingo, 20 de dezembro de 2015

Sobre a tradição em África: o caso de Mswati III, rei da Suazilândia


O Rei da Suazilândia, rodeado das suas esposas e de um alce, um veado e uma rena macho. Tal como o Rei escolhe a cada aniversário, uma virgem para casar, estes animaisganham” novos chifres em cada primavera, durante a época de acasalamento.


Hoje trago-vos o caso do Rei Mswati III da Suazilândia, que é considerado como o sexagésimo sétimo (67) filho do Rei Sobhuza II e o único de Ntombi Thwala, uma das mulheres mais jovens do Rei. O meu objectivo é chamar a atenção para os exageros que podem ser atingidos graças aos costumes adoptados em África, em nome da tradição.
Pela tradição da sua etnia, Mswati III tem o direito e dever de escolher em cada aniversário uma rapariga virgem entre centenas que desfilam e dançam seminuas para ele, com a expectativa de serem escolhidas como “uma nova Lipovela” (noiva, em Suázi). O matrimónio acontecerá depois de a “Lipovela engravidar, como é tradicional. Apesar da tentativa da sua mãe, a Rainha Ntombi, ao garantir (na sua 15ª vez da escolha) que o Rei Mswati III não iria eleger mais nenhuma esposa, porque não cabiam mais mulheres no palácio, o Rei casou com uma nova Lipovela. Este Rei chegou a ser alvo da imprensa internacional, por ter despedido o ministro da justiça (Ndumiso Mamba), por este se ter envolvido com uma das suas 15 esposas (Nothando Dube). A cerimónia de casamento do Rei Mswati III na Suazilândia passou de tradição a atracção turística e milhares de pessoas juntam-se às virgens para assistir à dança.
O Monarca é muito contestado pelo seu estilo de vida luxuoso - estima-se que tenha uma fortuna superior a 200 milhões de dólares (cerca de 150 milhões de euros) num país onde cerca de 70% dos habitantes vivem abaixo da linha de pobreza e com uma das maiores taxas de HIV do mundo. Como se não lhe bastasse a fortuna que já possui, o Monarca aprovou em 2014 uma lei para aumentar em 10% o seu salário, para os 61 milhões de dólares por ano. As despesas do Estado com o Rei, a sua mãe (“Grande Elefanta”) e os seus apoiantes, assim como as obras nos seus palácios, não necessitam de aprovação pelo Parlamento, uma vez que isso desafiaria a autoridade absoluta do Rei (Diário de Notícias, 03-09-2012; 14-05-2014; Económico, 26-09-2010; Jornal de Notícias, 18-09-2013; Mendes, 2010: 64, 84).
Este cenário do Rei da Suazilândia pode ter muitas leituras sociológicas em muitos outros países africanos, em particular na Guiné-Bissau. Este exemplo ajuda-nos a compreender a necessidade de corrigir o que herdamos, para melhor nos adaptarmos às circunstâncias actuais.
Pensem neste assunto, porque os próximos posts darão continuidade ao debate sobre as nossas tradições. A valorização de um povo tem de passar sempre pela valorização da mulher como fonte primária de conhecimento e desenvolvimento de uma nação. Este é um tema de interesse para todos os seres humanos, porque todos têm ligação incontornável com uma mulher ao longo da sua vida (a mãe, irmã, esposa, tia, etc.). Por outras palavras não faz sentido ter um mundo onde o filho tem mais direitos do que a sua mãe, de quem, aliás, porventura, herdou as suas melhores qualidades.

Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 252, 255-257). Lisboa: Chiado Editora.

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