O Rei da Suazilândia, rodeado das suas esposas e de um alce, um veado e uma rena macho. Tal como o Rei escolhe a cada aniversário, uma virgem para casar, estes animais “ganham” novos chifres em cada primavera, durante a época de acasalamento.
Hoje trago-vos o caso do Rei Mswati III da Suazilândia, que é considerado como o sexagésimo sétimo (67) filho do Rei Sobhuza II e o único de
Ntombi Thwala, uma das mulheres mais
jovens do Rei. O meu objectivo é chamar a atenção para os exageros que
podem ser atingidos graças aos costumes adoptados em África, em nome da
tradição.
Pela tradição da sua
etnia, Mswati III tem o direito e dever de escolher em cada aniversário uma
rapariga virgem entre centenas que
desfilam e dançam seminuas para ele, com a expectativa de serem escolhidas
como “uma nova Lipovela” (noiva, em Suázi). O matrimónio acontecerá depois de a “Lipovela” engravidar, como é tradicional. Apesar da tentativa da sua mãe, a
Rainha Ntombi, ao garantir (na sua 15ª vez da escolha) que o Rei Mswati III não
iria eleger mais nenhuma esposa, porque
não cabiam mais mulheres no palácio, o Rei casou com uma nova Lipovela.
Este Rei chegou a ser alvo da
imprensa internacional, por ter despedido
o ministro da justiça (Ndumiso Mamba), por este se ter envolvido com uma das suas 15 esposas (Nothando Dube). A cerimónia de casamento do Rei Mswati
III na Suazilândia passou de tradição a
atracção turística e milhares de pessoas juntam-se às virgens para assistir
à dança.
O Monarca é muito contestado
pelo seu estilo de vida luxuoso - estima-se
que tenha uma fortuna superior a 200
milhões de dólares (cerca de 150
milhões de euros) num país onde cerca de 70% dos habitantes vivem
abaixo da linha de pobreza e com uma das maiores taxas de HIV do mundo. Como se não lhe bastasse a fortuna
que já possui, o Monarca aprovou em 2014
uma lei para aumentar em 10% o seu salário, para os 61 milhões de dólares
por ano. As despesas do Estado com o
Rei, a sua mãe (“Grande Elefanta”)
e os seus apoiantes, assim como as obras nos seus palácios, não
necessitam de aprovação pelo Parlamento,
uma vez que isso desafiaria a autoridade
absoluta do Rei (Diário de Notícias, 03-09-2012; 14-05-2014; Económico,
26-09-2010; Jornal de Notícias, 18-09-2013; Mendes, 2010: 64, 84).
Este cenário do Rei da Suazilândia pode ter muitas leituras sociológicas em muitos outros
países africanos, em particular na Guiné-Bissau. Este exemplo ajuda-nos a
compreender a necessidade de corrigir o
que herdamos, para melhor nos adaptarmos
às circunstâncias actuais.
Pensem neste assunto, porque os próximos posts darão
continuidade ao debate sobre as nossas
tradições. A valorização de um povo tem de passar sempre pela valorização da mulher como fonte primária de conhecimento e
desenvolvimento de uma nação. Este é um tema de interesse para todos os
seres humanos, porque todos têm ligação
incontornável com uma mulher ao longo da sua vida (a mãe, irmã, esposa,
tia, etc.). Por outras palavras não faz sentido ter um mundo onde o filho tem mais direitos do que a sua
mãe, de quem, aliás, porventura, herdou as suas melhores qualidades.
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes,
Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma
de Governação na Guiné-Bissau (pp. 252, 255-257). Lisboa: Chiado Editora.
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