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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

O semipresidencialismo e os conflitos internos dentro do PAIGC – o regresso de Thor, o Deus Viking

Caros leitores, como Politicólogo guineense, confesso que, do ponto de vista da Ciência Política “pura-&-dura”, há muitas explicações para as crises políticas que se verificam na Guiné-Bissau. Num breve ataque em diagonal (e não em profundidade), falar-vos-ei, mais uma vez, de algumas imperfeições do sistema político de governo neste país.
A experiência semipresidencialista revela dois factos principais: primeiro, a existência de um ambiente de difícil coabitação entre Presidentes da República «PR» e Primeiros-Ministros «PM» para a esmagadora maioria dos países que o adoptaram; segundo, muitas vezes o próprio sistema político semipresidencialista joga mais a favor do PR do que do PM (na Guiné-Bissau, desde a abertura democrática até hoje, nenhum deles terminou o seu mandato pela forma prevista na lei).
Estes factos constituem a prática cotidiana do semipresidencialismo guineense, onde os PR tentam, nos seus mandatos, controlar totalmente o Governo e a governação do país. Estas tentativas não encontram grande oposição por parte dos “partidos políticos” e da Assembleia Nacional Popular «ANP», mas encontram oposição no interior dos seus próprios partidos (como é patente no Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde «PAIGC»). E, quando estas facções contestatárias são politicamente vencidas, acabam, muitas vezes, por concertar forças com os militares para intervenções contra os PR, contra os PM, contra o Governo ou contra o PAIGC.
Neste sentido, o caso da Guiné-Bissau não se afasta da realidade africana, em que a centralização de Poderes na figura do PR onde existe a polarização política e étnica gera um clima propício aos conflitos. Na linha política de John Locke [1632-1704], o sistema político de Governo deve privilegiar a partilha do Poder. A centralização do Poder numa só pessoa ou num só partido-Estado “PAIGC” que não está sujeito a prestar contas a outras instituições leva, indubitavelmente, à exclusão política de outras facções e personalidades – situação perigosa para um país com uma história de séculos de conflitos, com mais de 40 “partidos políticos”, num cenário em que um partido-Estado “PAIGC” se torna imprescindível à governação, num país com mais de 30 grupos e mais de 100 subgrupos étnicos (Azevedo, 2009: 159-170; Locke, 2006: 329-331).
Os conflitos internos do PAIGC têm-se desenrolado desde a sua criação até hoje. Contudo, gostaria de destacar um bom exemplo desses conflitos dentro do PAIGC e entre o PAIGC e outros órgãos do Poder do Estado (PR, PM, ANP, Procuradoria-Geral da República, Tribunal de Contas). Estes conflitos estão a ganhar proporções gigantescas, culminando com a suspensão de três militantes e expulsão de outro. Estes acontecimentos revelam-nos que o PAIGC não é um partido de “anjos” ou “santos”, como já provou ao longo da vida política guineense.
No entanto, por desconhecermos o impacto do desfecho que este duelo dentro do PAIGC poderá trazer, há quem defenda a intervenção imediata de Thor, o Deus Viking da protecção da humanidade – também chamado de «Deus-martelo, Deus-relâmpago e Deus-Trovão» – para pôr ordem no PAIGC e socializar os «Beowulfes» guineenses numa tradição democrática. Forcei um pouco esta aproximação entre Thor e Beowulf, não só pelo facto de ambos pertencerem aos povos nórdicos do período viking. De uma forma irónica e humorística, o que pretendo dizer é que, se os Beowulfes estão a minar a estabilidade política, faz todo sentido convidar Thor para proteger os guineenses dos perigos que se avizinham das querelas do PAIGC. Ou seja, no caso da Guiné-Bissau, uso este mito para referir que, neste duelo entre militantes do PAIGC, é necessária a intervenção do Thor para garantir a estabilidade democrática no país. Em síntese, é urgente resolver este problema o mais rapidamente possível, de uma vez por todas, “implodindo” as estruturas que têm impedido a paz e a reconciliação na Guiné-Bissau.

Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 353-354). Lisboa: Chiado Editora.


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