Em
1968, Marcelo Caetano frustrou
todas as esperanças depositadas
no seu papel de possível líder reformista, uma vez que estava cercado pelo
núcleo duro do regime, cuja filosofia era a prossecução da política de Salazar
em relação a África. Isto tornou-se visível no seu discurso de mudança na continuidade
(Público, 27-04-2014).
Este
post sugere que os dirigentes/governantes/líderes guineenses que têm exercido o Poder político foram ou estão a ser usados e
arrastam boa parte dos cidadãos para uma situação que aumenta a dispersão, dificultando a coesão social na
Guiné-Bissau. Ou seja, comprometem-se com diversas forças obscuras/clandestinas,
que os obrigam a tomar posição, obrigando os que estão a seu favor a fazer o
mesmo. É
por este motivo que aconselho os
guineenses e amigos da Guiné-Bissau a
acreditarem no que diz o Princípio
da Objectividade da Ciência
Política (Fernandes, 2010: 57),
segundo o qual as
coisas não são na realidade tal como nos aparecem, por isso se diz que "por
dentro das coisas é que as coisas são".
Nesta
ordem de ideias, a categorização de governantes guineenses torna-se mais realista se
conjugarmos dois itens: uma
afirmação de Maquiavel e a revelação que o Rei Hrothgar fez ao seu sucessor
Beowulf. Por um lado, Maquiavel
afirma que: «[…] Aquele que
chega ao Principado com a ajuda dos Grandes mantém-se com mais dificuldade do
que aquele que o atinge com a ajuda do Povo. Isto porque, uma vez Príncipe
[governante/líder], se encontra no
primeiro caso cercado de
muitos que se julgam seus iguais, e a quem, por isso, não pode nem comandar,
nem manejar a seu talento. Mas, no
segundo caso, encontra-se sozinho no Poder, e tem em seu torno ou nenhum ou
pouquíssimos que não estejam dispostos a obedecer-lhe. Além disso, não se pode satisfazer os Grandes sem injúria de outrem, e ao Povo sim; porque o objectivo do Povo é mais honesto que o dos Grandes, desde que o destes é oprimir e do
Povo é não ser oprimido. Junta-se, ainda, que, contra o Povo que lhe seja inimigo, não tem o
Príncipe a defesa, por ser ele composto de muitos; e que, contra os Grandes, se pode
garantir por serem poucos […]» (Maquiavel, 2007: 49-52; Mendes, 2010: 31).
Por
outro lado, estas afirmações
de Maquiavel podem ser
articuladas com esta confrontação de Hrothgar para Beowulf ao revelar-lhe que «…as pessoas pensam
que, para ser Rei [governante/líder], só é preciso uma coroa de ouro e basta.
Pensam que, lá porque eu a uso, sou mais sábio que elas. Mais corajoso e melhor
(…). Um dia, irás compreender o
preço… que é preciso pagar pelos favores dela, e pelo trono também. Haverás
de saber o que é sentirmo-nos
um fantoche, a baloiçar dos fios que nos manipulam...» (Kiernam, 2007:
153-156, 183-190).
Destes
ensinamentos clássicos, os governantes/líderes políticos guineenses deveriam
aprender a lição de conquistar
o Poder de forma legítima/democrática –
«obter o trono por meios honestos», conquistando a sua legitimidade de forma
lícita, e não através de pactos entre o Poder político e outros meios
“obscuros” de atingir o Poder, como tem acontecido na Guiné-Bissau. Porque na política, «quem aceita
utilizar como meios o Poder e a violência, selou um pacto com o diabo»
(Weber, 2005: 109-110).
Esta
leitura pode ainda enquadrar-se no que Cícero
descreve como uma das
sequelas da existência da lei natural: «[…] as
pessoas boas e prudentes respeitam
os seus imperativos e proibições, ao passo que as pessoas más são indiferentes quer a uns quer a
outros […] aqueles que lhe
desobedecem estão a fugir de
si mesmos e a negar a sua própria humanidade. Mesmo que consigam escapar ao
julgamento humano pelo seu mau comportamento, hão-de pagar no fim um preço terrível […]». Bem analisado este excerto,
está explicado o preço
dos sucessivos crimes e mentiras praticados pelos governantes guineenses,
que podemos categorizar metaforicamente
de autênticos “Beowulfes” (Cícero,
2013: 20-21).
Para
mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo
Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp.
86, 160, 186-187). Lisboa: Chiado Editora.
NOTA: Para melhor compreender a história de Beowulf, consultar o post «"Beowulfização" Política
+Perpetuação no Poder = Touradas Político-Militares» do dia 3 de Novembro de 2015.
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