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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Repor a justiça para a estabilidade política na Guiné-Bissau – «devemos seguir o exemplo dos grandes homens – mesmo se não conseguirmos igualá-los, ao menos recebemos deles algum perfume (Maquiavel)»

Neste post, ataco em profundidade e trago para a Guiné-Bissau o modelo sul-africano, através do qual Nelson Mandela pôs em marcha uma política de reconciliação nacional – graças à Comissão da Verdade e Reconciliação – que seria para a Guiné-Bissau uma forma de estabilidade político-militar e um modo de repor a justiça a funcionar. Já que não é possível trazer de volta os familiares mortos ao longo dos anos, deve-se tentar reparar os prejuízos causados, para que cada familiar possa saber o que se passou com a sua família, diminuindo o clima de tensão e ódio que se vive no país. Além disso, torna-se difícil fazer uma justiça equilibrada com as ondas de turbulência que se fizeram sentir ao longo destes anos. Deve também proceder-se à reparação e construção de prisões de alta segurança, onde os condenados podem entrar como prisioneiros ou criminosos (sem emprego nem qualificação), e saírem com uma profissão. Portanto, os guineenses devem deixar de lado as suas contradições étnicas e os traumas do seu passado, para se unirem em prol do desenvolvimento do país; e devem, acima de tudo, compreender que todos somos iguais e, de uma forma ou de outra, todos fomos/somos influenciados pela situação que se tem vivido no país (Mandela, 1994, in Discursos que mudaram o mundo, 2010: 356; Mateus, 2011: 105-121; Mendes, 2010: 94-98).
Nesta ordem de ideias, é importante investir fortemente no desenvolvimento do desporto, em paralelo com as outras áreas. O desporto é um instrumento de coesão social e a concorrência para a liderança dos clubes pode reduzir o grande conflito para alcançar cargos políticos. Olhamos para o Ocidente, onde esta área constitui fonte de afirmação (Poder, dinheiro, reconhecimento, etc.), e verificamos que há pessoas que preferem ser presidentes de um clube de futebol ou um grande futebolista/desportista do que ser membros do governo. A mesma lógica se aplica a outras áreas, como, por exemplo, ser empresário, autarca, agricultor, artista, e, na melhor das hipóteses, ir para a Universidade. Há quem prefira ser académico ou universitário, ser reitor, investigador, conselheiro, assessor, gozar de sabedoria, respeito, Poder, do que ter uma tarefa política ou desportiva etc. No fundo, devemos valorizar os méritos de cada um, com base na diversificação das escolhas disponíveis (Mendes, 2010: 95).
A importação e adaptação de alguns modelos podem enquadrar-se na metáfora clássica de Maquiavel que nos diz que «devemos seguir o exemplo dos grandes homens – mesmo se não conseguirmos igualá-los, ao menos recebemos deles algum perfume»; e segundo Popper «deveríamos tentar apurar quem tem as melhores instituições. E deveríamos aprender com elas. Ou seja, devemos olhar para os modelos que existem e retirar o melhor possível deles para propor alternativas viáveis». Relembro toda gente que não basta ter um bom modelo político, é necessário analisar com cuidado os efeitos nefastos que dele podem resultar tal como tenho vindo a discutir ao longo do meu trabalho na área da Ciência Política (Maquiavel, 2005: 30; 2007: 68-69; Mendes, 2010: 81; Plutarco, 2009: 30-31; Popper, 2006: 22; 2009: 88).
Termino invocando três figuras que têm inspirado o meu trabalho e a minha vida, e que servem de modelos para mim: Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela. São modelos que, sendo sujeitos a críticas, servem como orientação – neste sentido, se alguém tiver de conotar-me como “seguidor, defensor ou porta-voz” de alguém, por favor, tenha isto em conta. Para mim, as pessoas de grande valor devem cumprir dois critérios: em primeiro lugar, não podem estar associada à violência ou derramamento de sangue; em segundo lugar, devem ser coerentes nas suas palavras, nas suas acções e nos seus pensamentos. São estas pessoas, a meu ver, que merecem ser seguidas, defendidas e recordadas.

Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 460-461; 464; 489-490). Lisboa: Chiado Editora.


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