Neste
post, ataco em profundidade e trago para a Guiné-Bissau o modelo sul-africano, através do qual Nelson
Mandela pôs em marcha uma política de reconciliação nacional – graças à
Comissão da Verdade e Reconciliação – que seria para a Guiné-Bissau uma forma de
estabilidade político-militar e um modo de repor a justiça a funcionar. Já que
não é possível trazer de volta os familiares mortos ao longo dos anos, deve-se
tentar reparar os prejuízos causados, para que cada familiar possa saber o que
se passou com a sua família, diminuindo o clima de tensão e ódio que se vive no país.
Além disso, torna-se difícil fazer uma justiça equilibrada com as ondas de
turbulência que se fizeram sentir ao longo destes anos. Deve também proceder-se
à reparação e construção de prisões de alta segurança, onde os condenados podem
entrar como prisioneiros ou criminosos (sem emprego nem qualificação), e saírem
com uma profissão. Portanto, os guineenses devem deixar de lado as suas contradições
étnicas e os traumas do seu passado, para se unirem em prol do desenvolvimento
do país; e devem, acima de tudo, compreender que todos somos iguais e, de uma
forma ou de outra, todos fomos/somos influenciados pela situação que se tem
vivido no país (Mandela, 1994, in Discursos que mudaram o mundo, 2010:
356; Mateus, 2011: 105-121; Mendes, 2010: 94-98).
Nesta ordem de ideias, é importante investir
fortemente no desenvolvimento do desporto, em paralelo com as outras áreas. O desporto
é um instrumento de coesão social e a concorrência para a liderança dos clubes
pode reduzir o grande conflito para alcançar cargos políticos. Olhamos para o
Ocidente, onde esta área constitui fonte de afirmação (Poder, dinheiro,
reconhecimento, etc.), e verificamos que há pessoas que preferem ser
presidentes de um clube de futebol ou um
grande futebolista/desportista do que ser membros do governo.
A mesma lógica se aplica a outras áreas, como, por exemplo, ser empresário,
autarca, agricultor, artista, e, na melhor das hipóteses, ir para a
Universidade. Há quem prefira ser académico ou universitário, ser reitor,
investigador, conselheiro, assessor, gozar de sabedoria, respeito, Poder, do
que ter uma tarefa política ou desportiva etc. No fundo, devemos valorizar os
méritos de cada um, com base na diversificação das escolhas disponíveis (Mendes,
2010: 95).
A importação e adaptação de alguns modelos podem enquadrar-se
na metáfora clássica de Maquiavel que nos diz que «devemos seguir o exemplo dos
grandes homens – mesmo se não conseguirmos igualá-los, ao menos recebemos deles
algum perfume»; e segundo Popper «deveríamos tentar apurar quem tem as melhores
instituições. E deveríamos aprender com elas. Ou seja, devemos olhar para os
modelos que existem e retirar o melhor possível deles para propor alternativas
viáveis». Relembro toda gente que não basta ter um bom modelo
político, é necessário analisar com cuidado os efeitos nefastos que dele podem
resultar tal como tenho vindo a discutir ao longo do meu trabalho na área da
Ciência Política (Maquiavel, 2005: 30; 2007: 68-69; Mendes, 2010: 81; Plutarco,
2009: 30-31; Popper, 2006: 22; 2009: 88).
Termino invocando três figuras
que têm inspirado o meu trabalho e a minha vida, e que servem de modelos para
mim: Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela. São modelos que,
sendo sujeitos a críticas, servem como orientação – neste sentido, se alguém
tiver de conotar-me como “seguidor, defensor ou porta-voz” de alguém, por
favor, tenha isto em conta. Para mim, as pessoas de grande valor devem cumprir dois critérios: em primeiro lugar, não podem estar associada à violência ou derramamento de sangue; em segundo lugar, devem ser coerentes nas suas palavras, nas suas acções e nos seus pensamentos. São estas pessoas, a meu ver, que merecem ser seguidas, defendidas e recordadas.
Para mais informações,
consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político
Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 460-461; 464;
489-490). Lisboa: Chiado Editora.
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