Caros leitores, este post
poderá ajudar algumas pessoas a compreender melhor a crise política guineense. Ou seja,
ajuda-nos a compreender a razão pela qual os politiqueiros, que erradamente chamamos de políticos, não se preocupam com o interesse do povo da Guiné-Bissau. Tal como dizia Platão (427 a.C.-347 a.C.) «abundam os politiqueiros onde faltam
os verdadeiros políticos» (Platão, 2008:
20-21).
Para Max Weber (1864-1920), existem três
formas de estar na política: a) há os políticos
ocasionais (todos nós), que se manifestam apenas, por exemplo, no acto do
voto, no aplauso ou protesto numa reunião “política”; b) há os políticos semi-profissionais que só
desempenham esta actividade pontualmente, sem viver principalmente dela e para
ela (por exemplo, assessores, consultores ou conselheiros); c) finalmente, há os
políticos profissionais, que vivem “da”
ou “para” a política, sendo que estas duas ideias não são necessariamente exclusivas.
Viver “da” política é procurar fazer dela uma fonte duradoura de rendimentos, o que não acontece com quem vive “para” a política, que faz dela um
ideal de vida. Em termos económicos,
para que uma pessoa possa viver exclusivamente “para” a política, tem de ter um
património considerável, independente das suas funções políticas
(são os casos de Belmiro de Azevedo em Portugal ou de “Cadogo Pai” ou "Carlos Banco" na Guiné-Bissau,
ou seja, pessoas com património material ou rendimentos provenientes de
rendas). No entanto, Max Weber acaba por reconhecer que é possível viver, simultaneamente, “da” e “para” a política –
aliás, admite que «todo o homem sério que vive “para” uma causa, vive também “dessa”
causa» (Weber, 1979: 17-25; 2005: 69-73).
Os políticos que vivem "da" política, procurando apenas
dela retirar proveito, enquadram-se perfeitamente
na filosofia da realpolitik tal como esta nos é apresentada por Maquiavel e Lord Palmerston. A teoria realista de Maquiavel (1469–1527) advoga
que «os fins justificam os meios», e a
teoria do ministro britânico do século XIX, considerado o pai da realpolitik, Lord Palmerston (1784–1865), defende
que «nós não temos aliados eternos ou inimigos perpétuos, só os nossos interesses são eternos e perpétuos e é nosso dever segui-los» (Maquiavel, 2007: 13, 78-79; Palmeira, 2006: 60).
Eu, contudo, acredito na necessidade de uma visão mais moderada da
realpolitik, na senda do que defendia Deng Xiao-Ping (1904-1997),
com o slogan “não importa a cor do
Gato, desde que apanhe o Rato”. A China que hoje
conhecemos é em boa parte resultado
dessa inspiração. E é
precisamente isto que defendo para a Guiné-Bissau, ou seja, não importa a
nacionalidade, raça, sexo, grupo étnico, cor da pele, ideologia partidária,
desde o momento que a pessoa partilhe o
espírito do patriotismo guineense e seja competente para
contribuir no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau.
Para mais informações, consultar
o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na
Guiné-Bissau (pp. 80-81, 189-190, 529). Lisboa: Chiado Editora.