Este
post divide-se em duas partes. A
primeira parte, tem o objectivo de confirmar os efeitos de contágio do meu post e artigo
de opinião no jornal - sobre a incoerência do Primeiro-Ministro de Cabo Verde - na política
guineense. Na segunda parte, vou
apresentar algumas ideias sobre a presença de tropas estrangeiras na
Guiné-Bissau. Fico contente por
saber que os conteúdos da minha obra
têm dominado o discurso dos actores
políticos guineenses, tanto de forma directa como indirecta.
Parte
I: Começo por apresentar as palavras de Florentino
Mendes Pereira, secretário do Partido
da Renovação Social (PRS), que disse hoje que o primeiro-ministro de Cabo
Verde deve evitar de imiscuir-se nos
assuntos internos da Guiné-Bissau. Além disso, afirmou também que a
Guiné-Bissau necessita de um pacto de
governação. Como podem confirmar, trata-se
precisamente de uma declaração que vai ao encontro das minhas argumentações anteriores, nomeadamente da ideia do Tratado Político de Governação que
desenvolvi em profundidade no meu livro. Penso que isto vem, mais uma vez,
confirmar, a pertinência do meu trabalho
para a actualidade política da Guiné-Bissau.
Parte
II: Passando agora ao segundo tema, posso dizer que o problema da Guiné-Bissau não se resume nas Forças Armadas da
Guiné-Bissau «FAGB» como principal factor de instabilidade
político-militar, mas padece da falta das principais modernizações que o partido-Estado PAIGC deveria ter feito desde
a independência. Neste sentido subscrevo
o slogan de quem advoga que a Guiné-Bissau (ou a África) está
a viver uma “crise de liderança e
da mudança de mentalidades”. Há líderes capazes, mas a maioria ainda é um mau exemplo. Isto piora quando constato que a governação da Guiné-Bissau vive
na dependência do apoio e da subordinação
económica/financeira, política e militar externa. E cada vez que o Estado da Guiné-Bissau tenta ensaiar uma autonomia interna (ou
se verifica o corte desse apoio), o Estado guineense mergulha num ciclo de instabilidade político-militar (Foreign
Policy/Edição FP, 01-2010: 72).
É nesta lógica que, ao analisar a presença das tropas estrangeiras do ECOMIB (missão de manutenção de paz da Africa Ocidental) na
Guiné-Bissau (depois de outras como o Senegal, Guiné-Conacri, Angola, etc.) para
a manutenção da segurança no país em
diferentes fases de conflitos internos,
recordo que a realidade da
Guiné-Bissau já provou ser um exemplo vivo do caso descrito pelo grande realista clássico,
Maquiavel: «[…] nada é tão débil e
instável como a fama do Poder
que se baseia em forças alheias […],
e deu-nos o exemplo da vitória de David
sobre Golias, que recusou as armas
de Saúl enfrentando assim o seu
inimigo com a sua funda e a sua faca […], em conclusão, as armas de outrem ou não te assentam bem, ou te pesam ou te apertam […]». Face a esta realidade,
a Guiné-Bissau deve esforçar-se a todo
custo para se livrar das constantes
dependências externas (Foreign Policy/Edição FP, 01-2010: 72; Kosta,
2007: 221, 387-388, 459-489, 648; Lemos, 1999: 144-153; Lopes, 1982: 75;
Maquiavel, 2007: 63-66; Mendes, 2010: 90; Silva, 2010: 195-202, 213-218; Sousa,
2012: 22-41, 49-55, 58-81, 103-104, 113).
A
presença de tropas estrangeiras na
Guiné-Bissau prejudica, por um lado,
a já má situação económica e financeira em que o país se encontra, porque exige
elevados custos para a sua manutenção; por
outro lado, vem abrir uma ferida que será difícil de sarar no futuro
relacionamento entre os militares e governantes guineenses, porque os militares guineenses podem achar que as suas
competências foram postas em causa. Como Sociólogo-Politicólogo guineense, considero que uma das melhores
hipóteses passa por encontrar uma solução interna, ou seja, para este
caso, mais vale acreditar no slogan de que “para
os problemas locais devem ser accionadas soluções locais e não continentais ou
globais”. Ou seja, «em cada caso
particular se procure enfrentar o perigo com os recursos disponíveis na altura»
(Kosta, 2007: 648). Se não forem
encontradas soluções internas, depois
da retirada das tropas estrangeiras o
país regressará aos seus anteriores
convívios polémicos e será preciso mandar
regressar as tropas estrangeiras para os
proteger, criando um círculo vicioso
contínuo (Huntington, 2009; Lopes, 2012; Maquiavel, 2007; Mendes, 2010;
Sousa, 2012).
O
que os governantes ou decisores políticos guineenses deveriam
pensar é que a próxima vítima do efeito dominó em África poderá ser, por
exemplo, o país cujas tropas se
encontram na Guiné-Bissau para garantir
a estabilidade político-militar. E o que será então da Guiné-Bissau?.
Para mais
informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015).Modelo
Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 177-178; 188-189). Lisboa: Chiado
Editora.
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