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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Crise política na Guiné-Bissau: o clima de tensão está subir com uma velocidade galopante, e as suas consequências estão à vista de todos...

Este post divide-se em duas partes. A primeira parte, tem o objectivo de confirmar os efeitos de contágio do meu post e artigo de opinião no jornal - sobre a incoerência do Primeiro-Ministro de Cabo Verde - na política guineense. Na segunda parte, vou apresentar algumas ideias sobre a presença de tropas estrangeiras na Guiné-Bissau. Fico contente por saber que os conteúdos da minha obra têm dominado o discurso dos actores políticos guineenses, tanto de forma directa como indirecta.
Parte I: Começo por apresentar as palavras de Florentino Mendes Pereira, secretário do Partido da Renovação Social (PRS), que disse hoje que o primeiro-ministro de Cabo Verde deve evitar de imiscuir-se nos assuntos internos da Guiné-Bissau. Além disso, afirmou também que a Guiné-Bissau necessita de um pacto de governação. Como podem confirmar, trata-se precisamente de uma declaração que vai ao encontro das minhas argumentações anteriores, nomeadamente da ideia do Tratado Político de Governação que desenvolvi em profundidade no meu livro. Penso que isto vem, mais uma vez, confirmar, a pertinência do meu trabalho para a actualidade política da Guiné-Bissau.
Parte II: Passando agora ao segundo tema, posso dizer que o problema da Guiné-Bissau não se resume nas Forças Armadas da Guiné-Bissau «FAGB» como principal factor de instabilidade político-militar, mas padece da falta das principais modernizações que o partido-Estado PAIGC deveria ter feito desde a independência. Neste sentido subscrevo o slogan de quem advoga que a Guiné-Bissau (ou a África) está a viver uma “crise de liderança e da mudança de mentalidades”. Há líderes capazes, mas a maioria ainda é um mau exemplo. Isto piora quando constato que a governação da Guiné-Bissau vive na dependência do apoio e da subordinação económica/financeira, política e militar externa. E cada vez que o Estado da Guiné-Bissau tenta ensaiar uma autonomia interna (ou se verifica o corte desse apoio), o Estado guineense mergulha num ciclo de instabilidade político-militar (Foreign Policy/Edição FP, 01-2010: 72).
É nesta lógica que, ao analisar a presença das tropas estrangeiras do ECOMIB (missão de manutenção de paz da Africa Ocidental) na Guiné-Bissau (depois de outras como o Senegal, Guiné-Conacri, Angola, etc.) para a manutenção da segurança no país em diferentes fases de conflitos internos, recordo que a realidade da Guiné-Bissau já provou ser um exemplo vivo do caso descrito pelo grande realista clássico, Maquiavel: «[…] nada é tão débil e instável como a fama do Poder que se baseia em forças alheias […], e deu-nos o exemplo da vitória de David sobre Golias, que recusou as armas de Saúl enfrentando assim o seu inimigo com a sua funda e a sua faca […], em conclusão, as armas de outrem ou não te assentam bem, ou te pesam ou te apertam […]». Face a esta realidade, a Guiné-Bissau deve esforçar-se a todo custo para se livrar das constantes dependências externas (Foreign Policy/Edição FP, 01-2010: 72; Kosta, 2007: 221, 387-388, 459-489, 648; Lemos, 1999: 144-153; Lopes, 1982: 75; Maquiavel, 2007: 63-66; Mendes, 2010: 90; Silva, 2010: 195-202, 213-218; Sousa, 2012: 22-41, 49-55, 58-81, 103-104, 113).
A presença de tropas estrangeiras na Guiné-Bissau prejudica, por um lado, a já má situação económica e financeira em que o país se encontra, porque exige elevados custos para a sua manutenção; por outro lado, vem abrir uma ferida que será difícil de sarar no futuro relacionamento entre os militares e governantes guineenses, porque os militares guineenses podem achar que as suas competências foram postas em causa. Como Sociólogo-Politicólogo guineense, considero que uma das melhores hipóteses passa por encontrar uma solução interna, ou seja, para este caso, mais vale acreditar no slogan de que “para os problemas locais devem ser accionadas soluções locais e não continentais ou globais”. Ou seja, «em cada caso particular se procure enfrentar o perigo com os recursos disponíveis na altura» (Kosta, 2007: 648). Se não forem encontradas soluções internas, depois da retirada das tropas estrangeiras o país regressará aos seus anteriores convívios polémicos e será preciso mandar regressar as tropas estrangeiras para os proteger, criando um círculo vicioso contínuo (Huntington, 2009; Lopes, 2012; Maquiavel, 2007; Mendes, 2010; Sousa, 2012).
O que os governantes ou decisores políticos guineenses deveriam pensar é que a próxima vítima do efeito dominó em África poderá ser, por exemplo, o país cujas tropas se encontram na Guiné-Bissau para garantir a estabilidade político-militar. E o que será então da Guiné-Bissau?.

Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015).Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 177-178; 188-189). Lisboa: Chiado Editora.

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