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sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Quando Joaquim Chissano apontou um dedo à Guiné-Bissau, três dedos viraram-se contra ele

O objectivo deste post é chamar a atenção para o facto de muitas pessoas (especialmente, governantes e políticos) criticarem países como a Guiné-Bissau, sem contudo fazerem uma análise rigorosa e sem olharem, previamente, para a situação dos seus próprios países. Já falei disso anteriormente quando defendi que “quem tem telhados de vidro não deve andar à pedrada”.

Em 2012, o ex-Presidente da República de Moçambique, Joaquim Alberto Chissano exortou a Comunidade Internacional para prestar uma assistência permanente de longo prazo à Guiné-Bissau, visando ajudar o país a “autoeducar-se na cultura da paz e da democracia”. Joaquim Chissano lamentou o recurso sistemático à violência para a resolução de diferendos, advogando a articulação da Comunidade Internacional na pacificação do país. Estas afirmações surgiram na sequência de um ataque à residência do ex-Primeiro-Ministro e ex-candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior e ocupação de vários postos estratégicos da capital da Guiné-Bissau por um grupo de militares (Sapo Notícias, 13-04-2012).
As palavras do ex-PR de Moçambique podem ser interpretadas como bons conselhos para quem deseja as maiores felicidades para a Guiné-Bissau e ao povo guineense. Mas cabe-me agora apresentar alguns factos da realidade moçambicana.
  A realidade moçambicana está inundada de conflitos de várias ordens, entre assassinatos, perseguições e confrontos armados entre os dois maiores partidos político-militares de Moçambique – a RENAMO (Resistência Nacional Moçambicana) e a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) que perturbam a estabilidade do país (Expresso, 05-04-2013).
Para sustentar estas ideias, apresento três exemplos concretos da realidade moçambicana.
Em primeiro lugar, tenho os casos de raptos e assassinatos de Albinos, muito recorrente em Moçambique, para tráfico de órgãos destinados à realização de feitiços para atrair boa sorte, amor e riqueza (A Bola África, 25-11-2015).
Em segundo lugar, o assassinato de opositores políticos ou vozes críticas incómodas como o caso de Gilles Cistac, um constitucionalista e professor universitário baleado em plena luz do dia. O especialista de Direito Constitucional, de origem francesa, defendeu uma posição da RENAMO acerca da criação de províncias autónomas em Moçambique, tendo recebido ameaças, antes de ter sido alvejado pelas costas num local público (Público, 03-03-2015).
Em terceiro lugar, a tentativa de assassinato de Manuel Bissopo, secretário-geral da RENAMO, que denunciou, pouco antes do ataque, alegados raptos e assassínios de membros do seu partido. Também num local público e à luz do dia, a sua viatura foi bloqueada por dois outros carros, de onde saíram os tiros (Diário de Notícias, 20-01-2016).
Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses depois de o líder da RENAMO reivindicar a vitória nas eleições gerais de 2014 e de ameaçar tomar o Poder em seis províncias do Norte e Centro do país (Diário de Notícias, 20-01-2016).
Perante estes factos, questiono se Joaquim Chissano considera que Moçambique deve “autoeducar-se na cultura da paz e da Democracia”, tal como recomendou à Guiné-Bissau (Sapo Notícias, 13-04-2012). Quem parece estar de acordo comigo é o académico Lourenço do Rosário, que disse que nunca foi criada a cultura de paz e reconciliação em Moçambique após os acordos de Roma de 1992 (Miramar, 22-10-2015), facto que está por detrás da polarização da sociedade moçambicana entre os partidos da FRELIMO e da RENAMO, e da agudização das suas contradições.
Posto isto caríssimos leitores, recomendo categoricamente a Joaquim Chissano que valorize a lição de que quando a casa do vizinho do lado estiver a arder, convém ajudá-lo a apagar o fogo para evitar a eventual propagação do incêndio para a nossa própria casa (Kosta, 2007: 703)[1].
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 190, 321). Lisboa: Chiado Editora.




[1] Joaquim Chissano parece ter ouvido a minha crítica, e já tomou posição relativamente a um dos problemas que apontei, ao defender a necessidade de uma educação forte para a sociedade moçambicana para erradicar o rapto, morte e perseguição dos Albinos (Rádio Moçambique, 16-09-2015).

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