Como já disse antes, os conflitos internos do PAIGC têm-se desenrolado desde
a sua criação até hoje, e estes conflitos estão a ganhar proporções gigantescas. Embora não
exista grande oposição por parte dos
“partidos políticos” e da Assembleia
Nacional Popular «ANP», encontramos sempre uma forte oposição no
interior do próprio
PAIGC. Estes conflitos provam a maior
dificuldade do PAIGC não querer abandonar o monopólio da sua
legitimidade histórica como o único
partido enraizado a nível nacional.
O protagonismo assumido pelo “braço político” dos veteranos da
luta armada que, aparentemente, divergem
sobre a liderança partidária
de Domingos Simões Pereira «DSP», revela claramente “quem
lidera e governa a Guiné-Bissau”. Ficou claro quando Manecas dos Santos
deu a entender que “existem pessoas no PAIGC que não lutaram, não
fizeram carreira no partido e que usam o partido como trampolim para os
seus interesses (RDP África, 15-01-2016; Sapo notícia, 14-01-2016). Se para um bom entendedor meia palavra
basta, então, tudo confirma as minhas teses, que em seguida
repisarei em alguns assuntos.
Em primeiro lugar, o protagonismo dos graúdos
do PAIGC legitima a metáfora Maquiavélica que diz: «[…] para alcançar o Poder, a Liderança e o Governo não é preciso ter muito mérito, basta ser por via do Povo ou por via dos
Grandes, porque é uma tradição
em todos os Estados; e aquele que alcança
o Poder, a Liderança e o Governo com a
ajuda dos Grandes mantém-se com mais dificuldade do que aquele que o atinge com a ajuda do Povo […]» (Maquiavel, 2007: 49-52; Mendes,
2010: 31). Esta metáfora justifica o
triste papel dos governantes guineenses
perante o regime político democrático,
que se enquadra no slogan de Rousseau: o Povo guineense pensa ser livre, mas ele engana-se redondamente; ele só é livre durante a eleição
dos membros da ANP e do PR; assim que estes
são eleitos, ele é escravo, não é nada. Nos curtos momentos da sua liberdade, o uso que o Povo faz dela,
justifica bem que a perca (Rousseau,
1762: 430 citado por Soromenho-Marques, 2011: 98).
Em segundo lugar, esse protagonismo dos graúdos do PAIGC desdobra-se
na confrontação de Hrothgar para Beowulf ao
revelar-lhe que «[…] as pessoas pensam que, para ser Rei, só é preciso uma Coroa
de Ouro e basta. Pensam que, lá
porque eu a uso, sou mais sábio que
elas. Mais corajoso e melhor (…). Um dia, irás
compreender o preço… que é preciso pagar pelos favores dela, e pelo Trono também.
Haverás de saber o que é sentirmo-nos um fantoche, a baloiçar dos fios que nos manipulam [...]» (Kiernam, 2007:
153-156, 183-190). Destes ensinamentos
clássicos os governantes guineenses
deveriam aprender a lição de conquistar o Poder/Trono por meios honestos, e não por via de pactos com os Bosses [graúdos]
ou com o partido PAIGC [Conde-Drácula] (Kiernam, 2007: 153-156, 183-190; Kosta,
2007: 697; Maquiavel, 2007: 49-52; Mendes, 2010: 31).
No entanto, é a verdade que “deve um governante sábio antes fundar-se sobre o que de si depende do que sobre o que depende dos outros e deve procurar por todos meios evitar o ódio”, ou seja, mais vale afastar-se de que ser
afastado. Porque na política o orgulho e teimosia são luxos que
um líder não pode ter. Cícero escreve que, em política, é irresponsável assumir uma postura
inabalável quando as circunstâncias estão em constante mutação. Há alturas em que se justifica
uma tomada de posição inflexível,
mas recusar constantemente ceder é
sinal de fraqueza, não de força. Os governantes guineenses devem compreender dois princípios: 1) nunca
comecem uma guerra injusta e 2) a corrupção destrói um país. A ganância, o suborno e a fraude minam
um país a partir do seu interior,
deixando-o fraco e vulnerável. A corrupção não é apenas um
mal moral: é uma ameaça prática que deixa os cidadãos, na melhor das hipóteses, sem
ânimo, e, na pior, a ferver de raiva e prontos para a revolução
(Cícero, 2013: 14-18; Maquiavel, 2005: 83).
Caros leitores, aproximar-se da política e dos políticos
não é sinónimo de militância num dos
partidos políticos. Os que estão lá
com ambição ou pretendem entrar, ainda têm tempo de ponderar,
porque com o modelo em vigor é preciso muita cautela…
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes,
Livonildo Francisco (2015). Modelo
Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 187-188,
441-442, 540). Lisboa: Chiado Editora.
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