Na maioria dos posts, existem hiperligações, de cor azul escuro, nas quais basta clicar para ter acesso às notícias, outros posts etc.

sábado, 16 de janeiro de 2016

Mesmo sabendo que água e conselhos só se dão a quem os pede…quem te aconselha o teu amigo é… Na política, muitas vezes, é melhor afastar-se do que ser afastado. A propósito da expulsão dos deputados do PAIGC e das tomadas de posição dos veteranos do partido.

Como já disse antes, os conflitos internos do PAIGC têm-se desenrolado desde a sua criação até hoje, e estes conflitos estão a ganhar proporções gigantescas. Embora não exista grande oposição por parte dos “partidos políticos” e da Assembleia Nacional Popular «ANP», encontramos sempre uma forte oposição no interior do próprio PAIGC. Estes conflitos provam a maior dificuldade do PAIGC não querer abandonar o monopólio da sua legitimidade histórica como o único partido enraizado a nível nacional.

O protagonismo assumido pelo “braço político” dos veteranos da luta armada que, aparentemente, divergem sobre a liderança partidária de Domingos Simões Pereira «DSP», revela claramente “quem lidera e governa a Guiné-Bissau”. Ficou claro quando Manecas dos Santos deu a entender que “existem pessoas no PAIGC que não lutaram, não fizeram carreira no partido e que usam o partido como trampolim para os seus interesses (RDP África, 15-01-2016; Sapo notícia, 14-01-2016). Se para um bom entendedor meia palavra basta, então, tudo confirma as minhas teses, que em seguida repisarei em alguns assuntos.
Em primeiro lugar, o protagonismo dos graúdos do PAIGC legitima a metáfora  Maquiavélica que diz: «[…] para alcançar o Poder, a Liderança e o Governo não é preciso ter muito mérito, basta ser por via do Povo ou por via dos Grandes, porque é uma tradição em todos os Estados; e aquele que alcança o Poder, a Liderança e o Governo com a ajuda dos Grandes mantém-se com mais dificuldade do que aquele que o atinge com a ajuda do Povo […]» (Maquiavel, 2007: 49-52; Mendes, 2010: 31). Esta metáfora justifica o triste papel dos governantes guineenses perante o regime político democrático, que se enquadra no slogan de Rousseau: o Povo guineense pensa ser livre, mas ele engana-se redondamente; ele só é livre durante a eleição dos membros da ANP e do PR; assim que estes são eleitos, ele é escravo, não é nada. Nos curtos momentos da sua liberdade, o uso que o Povo faz dela, justifica bem que a perca (Rousseau, 1762: 430 citado por Soromenho-Marques, 2011: 98).
Em segundo lugar, esse protagonismo dos graúdos do PAIGC desdobra-se na confrontação de Hrothgar para Beowulf ao revelar-lhe que «[…] as pessoas pensam que, para ser Rei, só é preciso uma Coroa de Ouro e basta. Pensam que, lá porque eu a uso, sou mais sábio que elas. Mais corajoso e melhor (…). Um dia, irás compreender o preço… que é preciso pagar pelos favores dela, e pelo Trono também. Haverás de saber o que é sentirmo-nos um fantoche, a baloiçar dos fios que nos manipulam [...]» (Kiernam, 2007: 153-156, 183-190). Destes ensinamentos clássicos os governantes guineenses deveriam aprender a lição de conquistar o Poder/Trono por meios honestos, e não por via de pactos com os Bosses [graúdos] ou com o partido PAIGC [Conde-Drácula] (Kiernam, 2007: 153-156, 183-190; Kosta, 2007: 697; Maquiavel, 2007: 49-52; Mendes, 2010: 31).
No entanto, é a verdade que “deve um governante sábio antes fundar-se sobre o que de si depende do que sobre o que depende dos outros e deve procurar por todos meios evitar o ódio”, ou seja, mais vale afastar-se de que ser afastado. Porque na política o orgulho e teimosia são luxos que um líder não pode ter. Cícero escreve que, em política, é irresponsável assumir uma postura inabalável quando as circunstâncias estão em constante mutação. Há alturas em que se justifica uma tomada de posição inflexível, mas recusar constantemente ceder é sinal de fraqueza, não de força. Os governantes guineenses devem compreender dois princípios: 1) nunca comecem uma guerra injusta e 2) a corrupção destrói um país. A ganância, o suborno e a fraude minam um país a partir do seu interior, deixando-o fraco e vulnerável. A corrupção não é apenas um mal moral: é uma ameaça prática que deixa os cidadãos, na melhor das hipóteses, sem ânimo, e, na pior, a ferver de raiva e prontos para a revolução (Cícero, 2013: 14-18; Maquiavel, 2005: 83).
Caros leitores, aproximar-se da política e dos políticos não é sinónimo de militância num dos partidos políticos. Os que estão lá com ambição ou pretendem entrar, ainda têm tempo de ponderar, porque com o modelo em vigor é preciso muita cautela


Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 187-188, 441-442, 540). Lisboa: Chiado Editora.

Sem comentários:

Enviar um comentário