Neste post procuro demonstrar
a incoerência do Primeiro-Ministro «PM»
de Cabo Verde José Maria Neves,
articulando três acontecimentos: a
sua posição face ao Presidente da República «PR» de Angola José Eduardo dos Santos; a sua indignação face aos comentários do representante da União da Europeia «UE»
sobre Cabo Verde e a sua recente declaração sobre a Guiné-Bissau
I. Sobre a prisão
preventiva dos 15 activistas detidos desde Junho de 2015 em Angola, acusados de conspirar para
destituir o regime político de José Eduardo dos Santos, o chefe do governo caboverdiano
disse que se trata de uma questão
interna, escusando-se, por isso, a comentar: “tratando-se de uma questão
interna de outro país, enquanto governo não
nos cabe pronunciar sobre esta matéria que se refere à justiça e à
governação de um outro país (…) as relações
são entre Estados, são normais, boas e, portando, não ficarão beliscadas
por causa de decisões de órgão de soberania de Angola” (Sapo Notícias,
26-10-2015).
II. No final de um encontro de Ulisses Correia e Silva (presidente do maior partido da oposição em
Cabo Verde - Movimento para a Democracia «MpD») com diferentes chefes de missões
diplomáticas, o representante da União
Europeia em Cabo Verde, José Manuel Pinto Teixeira, declarou que a União Europeia
espera que Cabo Verde disponibilize fundos necessários para eleições deste
ano. Estas declarações não agradaram
ao PM caboverdiano, que aconselhou os funcionários estrangeiros em Cabo
Verde a não se imiscuírem nos assuntos
político-eleitorais do país, através da sua página numa rede social. José Maria
Neves apelou para o sentido de Estado
dos agentes políticos e órgãos de soberania durante o período eleitoral e disse ainda que “Cabo Verde é um Estado de Direito Democrático e um país credível na arena internacional”
(RFI, 07-10-2015).
III. No que toca ao caso guineense, os PM de Portugal e
Cabo Verde, António Costa e José Maria Neves, mostraram-se preocupados com a instabilidade
política na Guiné-Bissau e apelaram para que se reencontre rapidamente o caminho da estabilidade democrática. Os
dois PM falaram na cidade da Praia numa conferência
de imprensa conjunta no âmbito da primeira deslocação oficial de António
Costa como PM a Cabo Verde. O PM caboverdiano mostrou-se “muito preocupado” com a situação na Guiné-Bissau, onde a estabilidade política e governativa está
novamente ameaçada depois de 15 deputados do PAIGC terem deixado de
responder pelo partido, que venceu com maioria as eleições de 2014. José Maria Neves
afirmou que “a CPLP e também Portugal e Cabo Verde continuarão a trabalhar para que haja estabilidade e paz”,
manifestando um forte apoio ao povo
da Guiné-Bissau “neste momento mais
complexo e mais difícil” (Porto Canal, 19-01-2016).
Atendendo a estes três acontecimentos, facilmente
percebemos uma forte incongruência na
postura de José Maria Neves face a diferentes situações. Por um lado,
mostra a sua cobardia face a Angola (além dos interesses económicos),
recusando comentar as questões internas deste país e mostra-se profundamente revoltado com declarações de
um diplomata estrangeiro a respeito de Cabo Verde. Por outro lado, não se inibe de comentar, a todo o
momento, a situação da Guiné-Bissau,
opinando e fazendo sugestões. Claramente vemos aqui dois pesos e duas medidas, que me levam a ficar bastante desapontado com o PM caboverdiano,
apesar de já o ter elogiado diversas vezes. E volto a realçar que “quem tem telhados de vidro, não deve andar à pedrada”.
Para finalizar, gostaria de perguntar a José Maria Neves e à elite política caboverdiana
se, ao invés de andarem a desvalorizar
os guineenses, não seria melhor que a Guiné-Bissau e Cabo Verde comemorassem em conjunto o aniversário do
assassinato de Amílcar Cabral, em Bissau ou, alternadamente, um ano na
Guiné-Bissau e outro ano em Cabo Verde. Se
são países irmãos, porque não se comportam como tal?
São reflexões destas que fazem falta nos comentários dos diversos
quadrantes que discutem a política
guineense, em especial, aos neo-cabralistas
e pró-PAIGC.
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