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domingo, 28 de fevereiro de 2016

Sobre a relação entre os interesses dos politiqueiros guineenses com a realpolitik

Caros leitores, este post poderá ajudar algumas pessoas a compreender melhor a crise política guineense. Ou seja, ajuda-nos a compreender a razão pela qual os politiqueiros, que erradamente chamamos de políticos, não se preocupam com o interesse do povo da Guiné-Bissau. Tal como dizia Platão (427 a.C.-347 a.C.) «abundam os politiqueiros onde faltam os verdadeiros políticos» (Platão, 2008: 20-21).

 Para Max Weber (1864-1920), existem três formas de estar na política: a) há os políticos ocasionais (todos nós), que se manifestam apenas, por exemplo, no acto do voto, no aplauso ou protesto numa reunião “política”; b) há os políticos semi-profissionais que só desempenham esta actividade pontualmente, sem viver principalmente dela e para ela (por exemplo, assessores, consultores ou conselheiros); c) finalmente, há os políticos profissionais, que vivem “da” ou “para” a política, sendo que estas duas ideias não são necessariamente exclusivas. Viver “da” política é procurar fazer dela uma fonte duradoura de rendimentos, o que não acontece com quem vive “para” a política, que faz dela um ideal de vida. Em termos económicos, para que uma pessoa possa viver exclusivamente “para” a política, tem de ter um património considerável, independente das suas funções políticas (são os casos de Belmiro de Azevedo em Portugal ou de “Cadogo Pai” ou "Carlos Banco" na Guiné-Bissau, ou seja, pessoas com património material ou rendimentos provenientes de rendas). No entanto, Max Weber acaba por reconhecer que é possível viver, simultaneamente, “da” e “para” a política – aliás, admite que «todo o homem sério que vive “para” uma causa, vive também “dessa” causa» (Weber, 1979: 17-25; 2005: 69-73).
Os políticos que vivem "da" política, procurando apenas dela retirar proveito, enquadram-se perfeitamente na filosofia da realpolitik tal como esta nos é apresentada por Maquiavel e Lord Palmerston. A teoria realista de Maquiavel (1469–1527) advoga que «os fins justificam os meios», e a teoria do ministro britânico do século XIX, considerado o pai da realpolitik, Lord Palmerston (1784–1865), defende que «nós não temos aliados eternos ou inimigos perpétuos, só os nossos interesses são eternos e perpétuos e é nosso dever segui-los» (Maquiavel, 2007: 13, 78-79; Palmeira, 2006: 60).
Eu, contudo, acredito na necessidade de uma visão mais moderada da realpolitik, na senda do que defendia Deng Xiao-Ping (1904-1997), com o slogan “não importa a cor do Gato, desde que apanhe o Rato”. A China que hoje conhecemos é em boa parte resultado dessa inspiração. E é precisamente isto que defendo para a Guiné-Bissau, ou seja, não importa a nacionalidade, raça, sexo, grupo étnico, cor da pele, ideologia partidária, desde o momento que a pessoa partilhe o espírito do patriotismo guineense e seja competente para contribuir no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau.

Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 80-81, 189-190, 529). Lisboa: Chiado Editora.

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