As recentes exonerações e
nomeações do Procurador-Geral da República «PGR» e do Presidente de Tribunal de
Contas «PTC» reforçam a tese dos que defendem que o Partido vencedor das
eleições legislativas e presidenciais deveria governar em absoluto. Sem entrar
em detalhes, sou da opinião de que a Guiné-Bissau não se construirá de uma só vez
por acção de um Partido Político, com um mandato de quatro anos, nem
por meio de uma solução de fanatismo ideológico baseada nos dois maiores Partidos
Políticos – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde «PAIGC»
e Partido da Renovação Social «PRS». A Guiné-Bissau há-de fazer-se com passos
lentos e seguros, através de realizações concretas, criando, antes de mais, uma
solidariedade de facto, desenvolvida num período de amadurecimento político com um único mandato alargado
de Cinco/Seis anos, sob a tutela da alta autoridade da Área de
Especialistas ou Área de Estudos, que é um Órgão Consultivo Multidisciplinar e
Imparcial «AE-OCMI».
Na situação em que a Guiné-Bissau se encontra, e no
mundo actual em que vivemos, é urgente institucionalizar um sistema de eleições
internas para os Órgãos do Aparelho do Poder do Estado – PGR, Directores Gerais
dos Serviços «DGS», PTC, Chefias Militares, Embaixadores, etc. –, que deixarão
de ser nomeados pelo Poder político (ou seja, PR, Parlamento, PM e Governo). Porque
as nomeações e exonerações políticas podem não se pautar por critérios de
imparcialidade e mérito, uma vez que os órgãos responsáveis têm uma grande
margem de manobra para decidir em função dos seus interesses. Para estes
cargos, será instituído um processo de sistema eleitoral interno de cada
serviço. A ausência de nomeação/exoneração política e institucionalização de um
sistema eleitoral interno desses cargos podem, por um lado, fazer com que o PGR,
DGS, PTC, Chefias Militares e Embaixadores não sejam um mero capricho político,
e que se resuma a um defensor do staff presidencial, governamental e
parlamentar; e pode, por outro lado, ajudar a Guiné-Bissau a alcançar a estabilidade
política, a garantir a imparcialidade dos serviços públicos guineenses e a
aproximar assim o país do modelo belga, onde, apesar da grande instabilidade
política, os serviços públicos conseguem funcionar, pelo menos, durante um ano
e meio sem Governo.
O que aconteceu
com os dois jovens intelectuais recentemente exonerados pode acontecer com
qualquer jovem quadro, tal como já aconteceu anteriormente. Neste sentido,
aconselho os intelectuais, cidadãos de boa vontade e boa fé, honestos e de
consciência tranquila, a aproximarem-se da política e dos políticos, caso estes
não o façam por sua iniciativa, para que a política guineense não continue a
estar insuflada por “Beowulfes”. Ao serem nomeados, no modelo actual, será
importante que os quadros estabeleçam um contrato de durabilidade, de acordo
com o tempo de mandato dos órgãos que os nomeiam.
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo
Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação
na Guiné-Bissau (pp. 341, 353-354,
452, 466, 478). Lisboa: Chiado Editora.
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