Um dos maiores impulsionadores da Guiné-Portuguesa no século XIX foi Honório Pereira Barreto [24-04-1813 a 16-04-1859], a quem chamei, desde
2010 na minha dissertação de Mestrado (e em 2014 na minha tese de
Doutoramento), metaforicamente, “Obama
português do século XIX”. Foi, em parte, graças às suas acções que Portugal
conseguiu instalar-se na Guiné-Bissau. Estudou
em Portugal e era descendente de portugueses, caboverdianos e guineenses (Manjacos). Face à revolta de alguns grupos étnicos, o Governador-Geral de Cabo Verde e da Guiné (que tinham um só Governo
com sede na cidade da Praia, em Cabo Verde) escreveu a D. Maria II, rainha de Portugal, recomendando-lhe que nomeasse Honório Barreto como Governador da Guiné para terminar com
as guerras no país. Sendo assim, Honório
Barreto foi o primeiro Negro “luso-caboverdiano-guineense”
que assumiu funções, por várias vezes, como Governador da Guiné-Portuguesa
(Província de Cacheu), funcionando como intermediário entre os
portugueses e os chefes locais (Bull,
1989: 93-95; Cabral, 2008: 126-127; Lara, 2000: 102; Mendes, 2010: 20-21; 2014:
88).
Esta metáfora pretende ilustrar o seguinte: a) ao
longo da história da ocupação, Honório
Barreto foi o único mestiço que governou a Guiné-Portuguesa, ou melhor, foi o único mestiço que governou numa das colónias portuguesas ao longo dos cinco séculos da ocupação, tal como Barack Obama nascido a 4 de Agosto de 1961, em Honolulu-Havai,
filho de um queniano e de uma norte-americana do Kansas, é o primeiro
afro-americano a ocupar o cargo do Presidente da República dos EUA ao
longo dos séculos (Lara, 2000: 31; UOL, 2008); e b) ilustra também uma posição
ocupada pelos mestiços, entre brancos e
negros, ou seja, o sentimento de confiança e pertença que estes
descendentes inspiram de ambos os lados.
António
Luís Santos da Costa nasceu em Lisboa a 17 de Julho de 1961, filho da jornalista Maria Antónia Palla e do escritor Orlando da Costa. E se Maria Antónia era
de uma família portuguesa, republicana e laica do Seixal, Orlando era filho de
uma família goesa, brâmane e católica de Margão, território que foi integrado
na Índia em 1961, com a anexação das possessões portuguesas de Goa, Damão e
Diu. Filho de uma branca portuguesa da metrópole e de um descendente de indianos
goeses de Margão, António Costa pode
ser chamado de segundo Obama Português (Século-XXI), tal como muitos já o têm feito,
tratando-se desta forma do primeiro Chefe
de Governo descendente de uma das antigas colónias portuguesas. Trata-se de
um marco histórico, à semelhança do
que aconteceu com Honório Barreto e Barack Obama (Açoriano Oriental, 20-10- 2014; Jornal de Notícias, 29-05-2014; Mendes, 2015: 111; Público,
24-11-2014).
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 111, nota 17). Lisboa: Chiado Editora.
Nota esclarecedora…
ResponderEliminarO cruzamento dos dados que foram mostrados no texto não é para qualquer um, mas sim para pessoas atentas. Traduzindo estas ligações feitas, diria que o conhecimento é a chave de tudo isso. O mundo está a valorizar cada vez mais os intelectuais, por isso é importante que os guineenses acordem e parem de dizer que “escola i ka nada” estudem, estudem para o amanhã da nossa terra porque, Barreto, Obama e Costa chegaram ali por mérito não pela graxa, como é habitual em Guiné-Bissau.
Meus parabéns Livonildo
Raul Mendes
Caro amigo Raul Mendes, muito obrigado pelo contributo. Um grande abraço
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