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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sobre a saída do Reino Unido da União Europeia

Magníficos leitores, no post de hoje faço uma síntese sobre o impacto da saída do Reino Unido[1] «RU» da União Europeia «UE». No Domingo avançarei com novos temas sobre a Guiné-Bissau, nomeadamente a declaração de Baciro Djá, a ameaça de “Manelinho” a Inum Embalô; a estadia do Presidente da República José Mário Vaz em Portugal; a estratégia do silêncio do ex-Primeiro-Ministro e presidente do PAIGC Domingos Simões Pereira e a retoma dos problemas no Parlamento guineense.
O termo “brexit[2]” é uma fusão de duas palavras inglesas: “britain”, é o diminutivo para Grã-Bretanha (ou, para ser mais correcto em termos políticos, para Reino Unido), e “exit” significa “saída”. Na tradução literal para o português, significa, então, “saída Britânica”. A decisão sobre a saída do RU da UE foi tomada a partir de um referendo popular[3], realizado a 23 de junho de 2016. Com 51,9% dos votos a favor da saída, a maioria dos cidadãos britânicos optou pelo brexit, contra os 48,1% dos votos que apoiavam a permanência do Estado na UE (para uma análise mais detalhada, recomendo a entrevista a Paulo Portas cujo vídeo se encontra no final deste post, TVI24, 24-06-2016). O RU é formado por quatro países constituintes: Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales (politicamente, os quatro países estão unidos, mas mantêm a sua autonomia em relação a alguns aspectos como o desporto, por exemplo). A maioria dos eleitores da Inglaterra e País de Gales votaram a favor da saída, enquanto grande parte dos cidadãos da Escócia e Irlanda do Norte se manifestaram por permanecer na UE.
O principal discurso dos defensores do brexit assenta na ideia do nacionalismo tradicional, apoiado por ideais anti-imigração. O Reino Unido aderiu à Comunidade Europeia em 1973, mas, suportado pela força da sua moeda libra, sempre se recusou a adoptar a moeda única europeia, o euro, e não aceitou integrar o Acordo de Schengen (relativo à livre circulação). Londres (Inglaterra) tem mantido um braço de ferro com Bruxelas em relação ao tratado orçamental europeu e ameaçou vetar o documento. Além disso, a crise de refugiados e a gestão europeia da mesma não ajudaram (Euronews,16-02-2016). Para a saída foi invocado o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que prevê que qualquer Estado-membro da UE tem a liberdade para sair da UE de modo voluntário e unilateral. Também fica determinado que o prazo máximo para as negociações de saída é de dois anos, caso não haja uma decisão unânime que prorrogue este tempo. Com o Brexit, o RU entra para a história como o primeiro Estado-membro a sair da UE[4] (Significados, 01-07-2016).
A vontade do eleitorado do RU deve ser respeitada, mas também devemos recordar que o RU, apesar de ser uma potência que lutou contra a hegemonia de Napoleão, de Bismarck, de Hitler, etc., nas últimas décadas tem contribuído para a queda de muitos países africanos e do Médio Oriente – Líbia, Egipto, Síria, Iraque, Afeganistão, Líbano, etc., contribuindo para o grande fluxo migratório que hoje se verifica (desses países para a Europa/Ocidente). O Brexit causou alguma ansiedade junto dos países cujos cidadãos se encontram a viver e a trabalhar no RU. O Governo português, por exemplo, aconselhou aos imigrantes portugueses que pedissem autorizações de residência, de forma a garantirem uma situação mais estável e segura (RTP1, 24-06-2016) – dou o mesmo conselho aos imigrantes africanos/guineenses.
Muitos países ocidentais não vêem esta imigração com bons olhos, esquecendo o seu papel na ruína desses países, desde a colonização, escravatura, pilhagem de recursos, divisão de África, sucessivas invasões e ataques até aos dias de hoje. Retomando a ideia de Deng Xião-Ping, de que «a cor do gato não interessa, desde que apanhe o rato»[5], volto a reiterar/reforçar a minha posição favorável relativamente à emigração/imigração[6], na medida em que todos devem ter o direito de procurar uma vida melhor e devem ser aceites no local que escolhem para viver. Até porque os cidadãos estrangeiros que são acolhidos podem trazer um grande contributo ao país de chegada. Temos, por exemplo, o caso de Calouste Sarkis Gulbenkian, um cidadão de origem Arménia, mas de nacionalidade britânica, que nasceu em Istambul (Turquia) e viveu em Lisboa (Portugal) de 1942 a 1955 (ano da sua morte). Doou a sua fortuna ao Estado português, a qual deu origem à Fundação Calouste Gulbenkian que tem um papel de destaque no desenvolvimento da Ciência, em Portugal e no mundo (Correio da Manhã, 16-06-2006; Mendes, 2010: 88). Ressalvo, obviamente, que a imigração gera situações complexas e por vezes, tensas, que devem ser resolvidas de forma o mais pacífica possível pelos Estados, salvaguardando sempre o respeito pelos direitos humanos. Tudo isto não desresponsabiliza os Estados e dirigentes africanos/guineenses, que devem fazer tudo o que está ao seu alcance para dar as melhores condições de vida possíveis aos seus cidadãos.
Não se esqueçam de voltar no Domingo, para mais um post “quente” sobre a política guineense…
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 119-131, 386, 529). Lisboa: Chiado Editora.


[1] Os interessados em conhecer o papel do Reino Unido contra a hegemonia Franco-Alemã (França e Alemanha), ao longo da história até aos dias de hoje, recomendo ler o “Subcapítulo – II: Conferência de Berlim – Causas e Efeitos da Conferência para a Guiné-Bissau/África” e também as páginas 243-244 do meu livro (Mendes, 2015: 119-131, 243-244).
[2] O termo remonta à discussão sobre uma possível saída da Grécia do euro, em 2012. À época, estava em voga a palavra Grexit, que veio a originar, posteriormente, o termo brexit (BBC, 17-07-2016).
[3] Recomendo aos interessados que leiam a página 386 do meu livro para se informarem sobre o que é uma eleição, o voto, o referendo e o plebiscito (Fernandes, 2010: 210-213; Pasquino, 2010: 142-143).
[4] Alguns analistas dizem que esta será a decisão mais importante para os britânicos desde 1975, quando o voto de dois terços do eleitorado determinou o ingresso na então Comunidade Económica Europeia (BBC, 17-07-2016).
[5] Tal como já defendi anteriormente não importa a nacionalidade, raça, sexo, grupo étnico, cor da pele, ideologia partidária, deficiência, desde o momento que a pessoa partilhe o espírito do patriotismo guineense e seja competente para contribuir no processo de desenvolvimento da Guiné-Bissau (Mendes, 2010: 88; 2015: 529).
[6] Emigração diz respeito à saída de alguém do seu país para se fixar noutro país, do modo temporário ou definitivo; Imigração significa entrar e fixar-se num país estrangeiro, de modo temporário ou definitivo, em geral para assegurar trabalho e melhorar as condições de vida (Dicionário Verbo, 2006: 401, 595).

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