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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Max Weber em 3 minutos para os politiqueiros guineenses

Ilustres leitores, este post pretende oferecer algumas ferramentas que permitam uma melhor compreensão dos fracassos e sucessos daqueles que chamamos de políticos.

Numa Conferência pronunciada no Inverno de 1918/1919, o intelectual alemão Max Weber (1864-1920), descreveu as três qualidades decisivamente importantes para um político: Paixão, Sentido de Responsabilidade e Mesura (medida/moderação).
Max Weber enquadra, em primeiro lugar, a Paixão no sentido de positividade, de entrega apaixonada a uma “causa” com a qual se compromete. Em segundo lugar diz, a propósito do Sentido de Responsabilidade, que nem tudo fica resolvido com a simples Paixão, apesar de sinceramente sentida – a Paixão não transforma um homem em político, se não estiver ao serviço de uma “causa” e fizer da Responsabilidade para com essa causa a estrela decisiva que orienta a acção. Em terceiro lugar, descreve a Mesura como a capacidade de aprender com a realidade, com calma e discernimento, ou seja, a capacidade para deixar que a realidade actue sobre a pessoa sem perder o domínio e a tranquilidade, isto é, para manter a distância em relação aos homens e às coisas. O “não saber guardar distâncias” é, para qualquer político, um dos pecados mortais; “sabê-lo” é uma das qualidades cujo esquecimento condenará a nossa actual “geração de intelectuais” à impotência política. Max Weber aponta, neste sentido, uma forte ligação entre a política e a ética[1] (Morão, 2005: 14-15; Weber, 1979: 74-75; 2005: 101-102).
A “força” de uma “personalidade política” reside na posse destas qualidades,  e no combate diário contra o seu grande inimigo, que é demasiado humano – a Vaidade. Dois grandes pecados mortais no campo da política – a ausência de finalidades objectivas e a irresponsabilidade – resultam precisamente do excesso de Vaidade. A Vaidade é uma característica muito comum e talvez ninguém esteja livre dela – é inimiga mortal de toda a entrega a uma causa e de toda a distância; neste caso, da distância perante si mesmo. Nos círculos académicos e científicos, a Vaidade é uma espécie de doença profissional. No entanto, no homem de ciência, por muito antipáticas que sejam as suas manifestações, a Vaidade é relativamente inofensiva dado que, em geral, não dificulta o trabalho científico. Mas o mesmo não se passa com o homem da política. A Vaidade, a necessidade de aparecer[2] em primeiro plano sempre que seja possível, é o que mais leva o político a cometer um destes pecados ou os dois ao mesmo tempo: a sua ausência de finalidade objectiva torna-o propenso a procurar a aparência brilhante do Poder em vez do Poder real; e a sua falta de responsabilidade leva-o a gozar o Poder pelo Poder, sem tomar em conta a sua finalidade (Weber, 1979: 76-77; 2005: 102-103).
Repare-se na actualidade da análise de Max Weber: apesar de estas ideias terem sido proferidas há quase um século (1918/19), continuam a aplicar-se de forma surpreendente aos políticos actuais. Penso que posso mesmo dizer que a Vaidade continua a ser dominante na classe política e é muito raro encontrar um Líder com a combinação certa de Paixão, Sentido de Responsabilidade e Mesura. Dirijo esta mensagem aos (chamados) políticos guineenses: aprendam com as ideias de Max Weber e procurem dedicar-se à política de forma honesta e responsável, tendo em vista o bem-estar da Guiné-Bissau.
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 79-80, 85). Lisboa: Chiado Editora.



[1] Questionado de que maneira é possível reunir na mesma alma a Paixão ardente e o sentido calculado das proporções, Max Weber é pragmático em afirmar que a política se faz com a cabeça, e não com outras partes do corpo ou da alma. E, todavia, a entrega a uma causa só pode nascer e alimentar-se da Paixão, se se tratar de uma acção genuinamente humana, e não de um frívolo (superficial) jogo intelectual. Só o hábito da distância – em todos os sentidos da palavra – torna possível a enérgica domação da alma, que caracteriza o político apaixonado e o distingue do simples diletante/amador político “esterilmente agitado”.

[2] Para Plutarco (46 d.C.-120 d.C.), um homem político deve mostrar-se perante o povo quando este o solicita, e deixá-lo cheio de nostalgia/saudade quando se ausenta (Plutarco, 2009: 46).

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