Ilustres leitores, este post pretende oferecer algumas ferramentas que permitam uma melhor compreensão dos fracassos e sucessos
daqueles que chamamos de políticos.
Numa Conferência pronunciada no Inverno de 1918/1919, o intelectual alemão Max Weber (1864-1920), descreveu as
três qualidades decisivamente
importantes para um político: Paixão,
Sentido de Responsabilidade e Mesura (medida/moderação).
Max Weber enquadra, em primeiro lugar, a Paixão no sentido de positividade, de entrega apaixonada a uma “causa”
com a qual se compromete. Em segundo lugar diz, a propósito do Sentido de Responsabilidade, que nem
tudo fica resolvido com a simples Paixão, apesar de sinceramente sentida – a Paixão não transforma um homem em político,
se não estiver ao serviço de uma “causa” e fizer da Responsabilidade para com
essa causa a estrela decisiva que orienta a acção. Em terceiro lugar,
descreve a Mesura como a capacidade de
aprender com a realidade, com calma e discernimento, ou seja, a capacidade para deixar que a realidade
actue sobre a pessoa sem perder o
domínio e a tranquilidade, isto
é, para manter a distância em relação
aos homens e às coisas. O “não saber
guardar distâncias” é, para qualquer político, um dos pecados mortais; “sabê-lo”
é uma das qualidades cujo
esquecimento condenará a nossa
actual “geração de intelectuais” à impotência política. Max Weber aponta,
neste sentido, uma forte ligação entre a política
e a ética[1] (Morão, 2005: 14-15; Weber,
1979: 74-75; 2005: 101-102).
A “força” de uma
“personalidade política” reside na posse
destas qualidades, e no combate diário contra o seu grande inimigo, que é demasiado humano – a Vaidade. Dois grandes pecados mortais no campo da política – a
ausência de finalidades objectivas e
a irresponsabilidade – resultam precisamente
do excesso de Vaidade. A Vaidade é uma característica muito comum e talvez ninguém esteja livre dela – é inimiga mortal de toda a entrega a uma
causa e de toda a distância; neste
caso, da distância perante si mesmo.
Nos círculos académicos e científicos, a Vaidade é uma espécie de doença profissional.
No entanto, no homem de ciência, por muito antipáticas que sejam as suas manifestações,
a Vaidade é relativamente inofensiva
dado que, em geral, não dificulta o
trabalho científico. Mas o mesmo não se passa com o homem da política. A Vaidade,
a necessidade de aparecer[2] em primeiro plano sempre que seja possível, é o que mais leva o
político a cometer um destes pecados ou os dois ao mesmo tempo: a sua ausência
de finalidade objectiva torna-o propenso a procurar a aparência brilhante do Poder em vez do Poder real; e a sua falta de
responsabilidade leva-o a gozar o Poder
pelo Poder, sem tomar em conta a sua finalidade (Weber, 1979: 76-77; 2005:
102-103).
Repare-se
na actualidade da análise de Max
Weber: apesar de estas ideias terem sido proferidas há quase um século (1918/19),
continuam a aplicar-se de forma
surpreendente aos políticos actuais. Penso que posso mesmo dizer que a Vaidade
continua a ser dominante na classe
política e é muito raro encontrar um Líder com a combinação certa de
Paixão, Sentido de Responsabilidade e Mesura. Dirijo esta mensagem aos (chamados) políticos guineenses: aprendam com as ideias de Max Weber e
procurem dedicar-se à política de forma
honesta e responsável, tendo em vista o bem-estar da Guiné-Bissau.
Para mais informações, consultar o meu
livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador – Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau (pp. 79-80, 85). Lisboa: Chiado Editora.
[1] Questionado de que maneira é possível
reunir na mesma alma a Paixão ardente e o sentido calculado das proporções, Max
Weber é pragmático em afirmar que a política se faz com a cabeça, e não com
outras partes do corpo ou da alma. E, todavia, a entrega a uma causa só pode
nascer e alimentar-se da Paixão, se se tratar de uma acção genuinamente humana,
e não de um frívolo (superficial) jogo intelectual. Só o hábito da distância –
em todos os sentidos da palavra – torna possível a enérgica domação da alma,
que caracteriza o político apaixonado e o distingue do simples diletante/amador
político “esterilmente agitado”.
[2] Para Plutarco (46
d.C.-120 d.C.), um homem político deve mostrar-se perante o povo quando este o
solicita, e deixá-lo cheio de nostalgia/saudade quando se ausenta (Plutarco,
2009: 46).
Sem comentários:
Enviar um comentário