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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

A Construção de um Mito na Guiné-Bissau: A Socialização & Politização do Mito Construído Socialmente

Caros leitores, um especial cumprimento a todos. Trago-vos, na manga, a notícia da chegada à Guiné-Bissau de dois Dragões meus na madrugada de hoje. Mas antes, gostaria de chamar a vossa atenção pela importância que este post pode representar para a nossa reflexão. A respeito disso, irei formular algumas questões que nos ajudam a compreender a Construção de um Mito: 1. Quem são os meus antepassados? 2. O que é um Dragão? 3. O que entendo por Mito? 4. Qual é importância do Mito para a Política e para a Ciência Política? 5. Porquê do Dragão de Beowulf, de Hobbit e da Guerra dos Tronos? 6. Quem são os alvos e as características destes Dragões? 7. Tudo é verdade ou mentira?
Antes de mais, gostaria de chamar a vossa atenção para a importância que este post pode representar para a nossa reflexão – ‘Sociológica da História Política Africana/Europeia’ –, ou seja, a História pode servir da Ponte entre a Sociologia e a Ciência Política (a prova científica da nossa realidade social remete-nos, muitas vezes, aos estudos clássicos, etc.).
De acordo com a nossa Oralidade, os meus antepassados (muitos anos antes da chegada dos Europeus à Guiné) foram Poderosos Chefes Tradicionais que – durante a Guerra de Resistência para proteger o Grande Reino do Norte pertencente aos Manjacos, Papéis e Mancanhas –, cavalgavam Aves Gigantes com Caudas enormes que cuspiam Fogo, para uns, ou cavalgavam Animais de Quatro Pés com Asas, Rabos Cumpridos e vomitavam Fogo, para outros. Hoje em dia, alguns Manjacos de Caió[1], ao recordarem aquelas Aves Gigantes e Animais Voadores, dizem que os meus antepassados “usavam Avião de Guerra de Feitiço”. Os Guineenses dessas épocas não tinham Escolas, a Escrita, e não documentavam nada, para além da Oralidade.
Com base nesta narrativa, torna-se compreensível que os Dragões fizeram e ainda fazem fúrias na Guiné-Bissau e também se compreende a minha ligação com estas figuras. Um Dragão[2] é uma criatura mitológica presente por todo o mundo em inúmeras culturas e civilizações, apresentada geralmente como um Réptil Grande, parecido com uma Serpente ou um Lagarto, muitas vezes com Asas, Poderes Mágicos e capacidade de produzir Fogo. O seu nome deriva do grego Drákon que significa Grande Serpente. Embora tenham funções diferentes em função do contexto, os Dragões aparecem geralmente como figuras de Grande Poder, seja como Adversários ou Aliados de Grandes Heróis ou Deuses. Algumas Teorias defendem que o Mito do Dragão poderá ter surgido da observação, pelos Povos Antigos, de fósseis provenientes de dinossauros e outros Grandes Animais. Mas por todo o lado o Dragão faz parte da Mitologia nos Povos. É neste quadro de raciocínio que os Mitos são narrativas utilizadas pelos Povos Antigos para explicar os fenómenos da natureza que não compreendiam. Os Mitos utilizam Símbolos, Personagens Sobrenaturais, Deuses e Heróis com objectivo de transmitir Conhecimento e explicar Factos que a Ciência ainda não era capaz de esclarecer[3].
Nesta linha de pensamento, Karl Popper revela-nos, a importância do Mito para a Ciência, ao dizer-nos que os Mitos Pré-Científicos podem conter importantes antecipações de Teorias Científicas que poderão só se desenvolver muito mais tarde (Popper, 2006: 62; 2009: 69-70, 250 citado por Mendes, 2015: 273). É neste aspecto que o Mito revela também a sua importância para a Ciência Política e para a Política, isto é, uma vez que a Ciência Política é a Ciência que estuda a Política, e o próprio objecto da Ciência Política é o Poder, então o objectivo da Política não podia ser outra coisa, senão a Conquista, o Exercício e a Manutenção no Poder (Fernandes, 2010). Também Paul Feyerabend reconhece que existem diferentes tipos de Ciência além da Ciência Ocidental que, em muitos casos, em nome do “Progresso”, destruiu, em muitos locais, Conhecimento Valioso e Significativo. Indo mais longe, Feyerabend defende que não existe uma fronteira entre Ciência e não Ciência ou entre Ciência e HistóriaAo contrário, a Ciência deve olhar para tudo o que está ao seu dispor (Mitos, Preconceitos, Fantasias, etc.), para melhorar. Deste modo, a Ciência seria posta no seu lugar, enquanto uma forma interessante de Conhecimento, possuidora de muitas vantagens mas também de muitos inconvenientes (Feyerabend, 1993: 13, 51-55, 214; Mendes, 2015: 57-58).
Dos cinco Dragões (e mais uma Gárgula) que eu quero incorporar no meu Mito Político, dois Dragões já chegaram à Guiné-Bissau. O primeiro está pousado na Estátua da Maria da Fonte, em plena Praça do Império, de frente para a Avenida principal. Chegou na madrugada de hoje e a sua Cauda fica a abanar entre a Sede do PAIGC e a Presidência. Este é o Dragão de Beowulf, e é o irmão mais novo de Grendel (para mais esclarecimentos sobre Beowulf, leiam este post). Este Dragão é Especialista na Corrupção que nasce dos Pactos, e isto inclui um tipo de Corrupção, muito frequente no país, que não se encontra na ordem jurídica guineense e nem tampouco está ao alcance de muitos dos Juristas guineenses. Este Dragão também nos remete para as nossas Tradições Africanas/Guineenses que falam de Pactos com Mouros, Irãs, Serpentes, Potências Diabólicas, etc. Quando o Pacto não é cumprido, há consequências graves e a ‘Pessoa’ é castigada, correndo o risco de ser carbonizada por este tipo de Dragão.

Em relação à Corrupção, Cícero usa o slogan de que: «a Corrupção destrói um país». A ganância, o suborno e a fraude minam um país a partir do seu interior, deixando-o fraco e vulnerável. A Corrupção não é apenas um mal moral: é uma ameaça prática que deixa os Cidadãos, na melhor das hipóteses, sem ânimo, e, na pior das hipóteses, a ferver de raiva e prontos para a revolução (Cícero, 2013: 17-18 citado por Mendes, 2015: 494). As Pessoas Sérias, como Cícero, entendiam que a Corrupção era um Cancro que corroía o Estado até à medula (Cícero, 2013: 64). Segundo ‘um Clássico da Política’, quem Corrompe um Juiz com o Discurso, faz um mal maior do que quem o Corrompe com uma determinada Quantia [Dinheiro], porque ninguém consegue Corromper um Homem Honrado com Dinheiro, mas consegue-o pela Oratória [pelo Discurso] (excerto de um trabalho em curso). Vejam lá se alguém consegue escapar destes tipos de Corrupção na Guiné-Bissau, caso contrário o meu Dragão terá muito trabalho para fazer!
O segundo Dragão que chegou esta noite e está pousado na Mãe de Água ao lado da Assembleia da República. Por isso mesmo, está com a Cabeça pousada em cima da Assembleia, pronto a libertar o seu Fogo, e a Cauda está a abanar entre as Sedes dos Partidos Políticos que se encontram ali à volta, até ao Aeroporto. Este Dragão é o do Hobbit, só gosta de Ouro e de outros Metais Preciosos. A mensagem da história deste Dragão é que, por maior que seja o Poder, ninguém fica no lugar eternamente.

É nesta trilogia da relação – do Dragão, da Política e do Poder – que faz sentido acautelar com a Visão Sociológica da Política de Max Weber quando diz que a Política é um Pacto com o Diabo/Demónio para quem se mete na Política, ou aceita utilizar como meios o Poder e a Violência, e diz ainda que o Diabo/Demónio é Velho, e que devemos fazer-nos de Velhos se quisermos entender o Diabo/Demónio. Esta “Velhice” não tem a ver com a Idade, mas sim com a Atenção Educada do olhar perante as realidades da vida e a capacidade de as superar e de estar à sua altura. A Política, na verdade, faz-se com a Cabeça, mas não apenas com a Cabeça (Weber, 1979: 89, 94-99; 2005: 100-115 citado por Mendes, 2015:86).
Os três Dragões que faltam são da Guerra dos TronosDrogon, Viserion e Rhaegal. A sua chegada está prevista para o fim do mês e será uma oportunidade para escrever o meu post sobre o paralelismo entre a Crise Política do PAIGC e a Crise Política Americana que resultou na Bipolarização e Bipartidarização do Sistema Político Americano. Entre estes três Dragões, um irá morrer e será transformado numa Arma Poderosa a favor do Inimigo. Vou conjugar este Dragão que estará na posse do Inimigo com uma Teoria da Geopolítica/Geoestratégica Americana que defende que o problema não é perder uma Arma, mas sim é de quem fica com essa Arma (do filme “Operação Flecha”). Em princípio, estes Dragões virão acompanhados com uma Gárgula[4] que será a minha Guardiã.
Como vimos, a dimensão destes Dragões é tão grande, que as suas Caudas estão a vigiar todas as Sedes dos Partidos Políticos. Hoje em dia é preciso ter muito cuidado em todo o lado por onde andamos e com quem estamos a lidar. Porque sem saber, muitas Pessoas podem ser queimadas por um destes Dragões, como diz Weber (2005:113): há Pessoas [Políticos, Governantes, Intelectuais Partidarizados, etc.] a quem falta a Responsabilidade “pelas Consequências dos seus Actos. Quem assim Age não tem Consciência das Potências Diabólicas que estão em Jogo”.
Espero que os meus Leitores tenham compreendido as minhas analogias com o Mito dos Dragões, para tornar a Política Guineense mais interessante e dinâmica. Conto convosco no próximo post, que sairá muito em breve.



[1] Caió é a terra do meu Pai. Caió, pela sua origem e diversidade dos subgrupos étnicos dos Manjacos, pode ser considerado os ‘Estados Unidos dos Manjacos’, mas muito anterior à própria chegada dos Europeus à  América. Comparativamente aos Estados Unidos da América «EUA», o povoamento de Caió começou de forma pacífica com base na concorrência, competência e mérito dos que iam lá trabalhar sem, contudo, tentar eliminar o anterior ocupante, porque não era habitado inicialmente. Diferentes Subgrupos dos Manjacos iam explorar a palmeira [daí advém o nome Ba-Iú que mais tarde ficou conhecido por Caió. Ou seja, ‘terra di furaduris di palmera’] temporariamente, e depois fixaram-se. Houve uma Guerra em defesa do Estado/Reino de Caió. A Paz foi estabelecida e nunca mais se voltou a falar de Guerra [mesmo durante a Luta Armada]. Este é apenas um pequeno relato da história de Caió que poderá vir a ser desvendada mais tarde.
[2] Informação retirada de www.wikipedia.org/wiki/Dragão
[3] Informação retirada de www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda/

[4] As Gárgulas tinham a importante função de afastar a água das paredes dos edifícios (Templos ou Igrejas), o que os protegia da erosão e da humidade causada pelo escorrer e pelo gotejar e, consequentemente, também afastava a água das fundações. A palavra Gárgula deriva do Latim – Gurgulio – que quer dizer garganta e da palavra francesa Gargouille, que também significa “garganta” ou “tubo”. Mas, devido à influência gótica na Idade Média, essas calhas ficaram, muitas vezes, escondidas dentro de Figuras Monstruosas e Animalescas. Acredita-se que originalmente as Figuras Monstruosas, e por vezes Assustadoras, tenham sido criadas para proteger os Fiéis do Mal, prevenindo-os, simultaneamente, que o Mal nunca Dorme (Barreira, 2010: 80-81, 86; Mendes, 2015: 493).

2 comentários:

  1. Valeu, Força aí.
    Um dia tudo dará certo, quando os politicologos assumirem o poder,em vez destes politiqueiros...

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  2. Acredito nas suas palavras, mas precisamos de criar um verdadeiro exército de Cientistas Políticos para reduzir esta bagunça de politiqueiros guineenses

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