Caros leitores, um especial cumprimento a todos. Trago-vos, na manga, a
notícia da chegada à Guiné-Bissau de dois Dragões meus na madrugada de hoje.
Mas antes, gostaria de chamar a vossa atenção pela importância que este post pode
representar para a nossa reflexão. A respeito disso, irei formular algumas
questões que nos ajudam a compreender a Construção de um Mito: 1. Quem são os
meus antepassados? 2. O que é um Dragão? 3. O que entendo por Mito? 4. Qual é
importância do Mito para a Política e para a Ciência Política? 5. Porquê do
Dragão de Beowulf, de Hobbit e da Guerra
dos Tronos? 6. Quem são os alvos e as características destes Dragões? 7.
Tudo é verdade ou mentira?
Antes de mais, gostaria
de chamar a vossa atenção para a importância que este post pode representar para
a nossa reflexão – ‘Sociológica da História Política Africana/Europeia’ –, ou
seja, a História pode servir da Ponte entre a Sociologia e a Ciência Política
(a prova científica da nossa realidade social remete-nos, muitas vezes, aos
estudos clássicos, etc.).
De acordo com a nossa Oralidade, os meus antepassados (muitos anos antes da chegada dos Europeus à
Guiné) foram Poderosos Chefes Tradicionais que – durante a Guerra de Resistência
para proteger o Grande Reino do Norte pertencente aos Manjacos, Papéis e
Mancanhas –, cavalgavam Aves Gigantes com Caudas enormes que cuspiam Fogo, para
uns, ou cavalgavam Animais de Quatro Pés com Asas, Rabos Cumpridos e vomitavam
Fogo, para outros. Hoje em dia, alguns Manjacos de Caió[1], ao recordarem aquelas
Aves Gigantes e Animais Voadores, dizem que os meus antepassados “usavam Avião
de Guerra de Feitiço”. Os Guineenses dessas épocas não tinham Escolas, a Escrita, e não documentavam nada, para além da Oralidade.
Com base nesta narrativa,
torna-se compreensível que os Dragões fizeram e ainda fazem fúrias na Guiné-Bissau
e também se compreende a minha ligação com estas figuras. Um Dragão[2] é uma criatura mitológica
presente por todo o mundo em inúmeras culturas e civilizações, apresentada
geralmente como um Réptil Grande, parecido com uma Serpente ou um Lagarto,
muitas vezes com Asas, Poderes Mágicos e capacidade de produzir Fogo. O seu
nome deriva do grego Drákon que
significa Grande Serpente. Embora tenham funções diferentes em função do
contexto, os Dragões aparecem geralmente como figuras de Grande Poder, seja
como Adversários ou Aliados de Grandes Heróis ou Deuses. Algumas Teorias
defendem que o Mito do Dragão poderá ter surgido da observação, pelos Povos Antigos, de fósseis provenientes de dinossauros e outros Grandes Animais. Mas por
todo o lado o Dragão faz parte da Mitologia nos Povos. É neste quadro de raciocínio
que os Mitos são narrativas utilizadas pelos Povos Antigos para explicar os
fenómenos da natureza que não compreendiam. Os Mitos utilizam Símbolos,
Personagens Sobrenaturais, Deuses e Heróis com objectivo de transmitir Conhecimento e explicar Factos que a Ciência ainda não era capaz de esclarecer[3].
Nesta linha de
pensamento, Karl Popper revela-nos, a importância do Mito para a Ciência, ao
dizer-nos que os Mitos Pré-Científicos podem conter importantes antecipações de Teorias Científicas que poderão só se desenvolver muito mais tarde (Popper,
2006: 62; 2009: 69-70, 250 citado por Mendes, 2015: 273).
É neste aspecto que o Mito revela também a sua importância para a Ciência
Política e para a Política, isto é, uma vez que a Ciência Política é a Ciência
que estuda a Política, e o próprio objecto da Ciência Política é o Poder, então
o objectivo da Política não podia ser outra coisa, senão a Conquista, o Exercício
e a Manutenção no Poder (Fernandes, 2010). Também Paul Feyerabend reconhece que existem diferentes tipos de Ciência além da Ciência Ocidental que, em muitos casos, em nome do “Progresso”, destruiu, em muitos locais, Conhecimento Valioso e Significativo. Indo mais longe, Feyerabend defende que não existe uma fronteira entre Ciência e não Ciência ou entre Ciência e História. Ao contrário, a Ciência deve olhar para tudo o que está ao seu dispor (Mitos, Preconceitos, Fantasias, etc.), para melhorar. Deste modo, a Ciência seria posta no seu lugar, enquanto uma forma interessante de Conhecimento, possuidora de muitas vantagens mas também de muitos inconvenientes (Feyerabend, 1993: 13, 51-55, 214; Mendes, 2015: 57-58).
Dos cinco Dragões (e mais
uma Gárgula) que eu quero incorporar no meu Mito Político, dois Dragões já
chegaram à Guiné-Bissau. O primeiro está pousado na Estátua da
Maria da Fonte, em plena Praça do Império, de frente para a Avenida principal.
Chegou na madrugada de hoje e a sua Cauda fica a abanar entre a Sede do PAIGC e
a Presidência. Este é o Dragão de Beowulf,
e é o irmão mais novo de Grendel (para mais
esclarecimentos sobre Beowulf, leiam este post).
Este Dragão é Especialista na Corrupção que nasce dos Pactos, e isto inclui um
tipo de Corrupção, muito frequente no país, que não se encontra na ordem
jurídica guineense e nem tampouco está ao alcance de muitos dos Juristas
guineenses. Este Dragão também nos remete para as nossas Tradições Africanas/Guineenses
que falam de Pactos com Mouros, Irãs, Serpentes, Potências Diabólicas, etc. Quando o Pacto não é
cumprido, há consequências graves e a ‘Pessoa’ é castigada, correndo o risco de
ser carbonizada por este tipo de Dragão.
Em relação à Corrupção, Cícero usa o slogan de que: «a Corrupção
destrói um país». A ganância, o suborno e a fraude minam um país a partir
do seu interior, deixando-o fraco e vulnerável. A Corrupção não é apenas um mal
moral: é uma ameaça prática que deixa os Cidadãos, na melhor das hipóteses, sem
ânimo, e, na pior das hipóteses, a ferver de raiva e prontos para a revolução
(Cícero, 2013: 17-18 citado por Mendes, 2015: 494).
As Pessoas Sérias, como Cícero, entendiam que a Corrupção era um Cancro que
corroía o Estado até à medula (Cícero, 2013: 64). Segundo ‘um Clássico da
Política’, quem Corrompe um Juiz com o Discurso, faz um mal maior do que quem o
Corrompe com uma determinada Quantia [Dinheiro], porque ninguém consegue Corromper
um Homem Honrado com Dinheiro, mas consegue-o pela Oratória [pelo Discurso] (excerto
de um trabalho em curso). Vejam lá se alguém consegue escapar destes tipos de Corrupção
na Guiné-Bissau, caso contrário o meu Dragão terá muito trabalho para fazer!
O segundo
Dragão que chegou esta noite e está pousado na Mãe de Água ao lado da Assembleia
da República. Por isso mesmo, está com a Cabeça pousada em cima da Assembleia,
pronto a libertar o seu Fogo, e a Cauda está a abanar entre as Sedes dos
Partidos Políticos que se encontram ali à volta, até ao Aeroporto. Este Dragão
é o do Hobbit, só gosta de Ouro e de
outros Metais Preciosos. A mensagem da história deste Dragão é que, por maior
que seja o Poder, ninguém fica no lugar eternamente.
É nesta trilogia da
relação – do Dragão, da Política e do Poder – que faz sentido acautelar com a
Visão Sociológica da Política de Max Weber quando diz que a Política é um Pacto
com o Diabo/Demónio para quem se mete na Política, ou aceita utilizar como
meios o Poder e a Violência, e diz ainda que o Diabo/Demónio é Velho, e que
devemos fazer-nos de Velhos se quisermos entender o Diabo/Demónio. Esta “Velhice”
não tem a ver com a Idade, mas sim com a Atenção Educada do olhar perante as
realidades da vida e a capacidade de as superar e de estar à sua altura. A Política,
na verdade, faz-se com a Cabeça, mas não apenas com a Cabeça (Weber,
1979: 89, 94-99; 2005: 100-115 citado por Mendes, 2015:86).
Os três Dragões que faltam são da Guerra
dos Tronos – Drogon, Viserion e Rhaegal. A sua chegada está prevista para o fim do mês e será uma
oportunidade para escrever o meu post
sobre o paralelismo entre a Crise Política do PAIGC e a Crise Política Americana
que resultou na Bipolarização e Bipartidarização do Sistema Político Americano.
Entre estes três Dragões, um irá morrer e será transformado numa Arma Poderosa
a favor do Inimigo. Vou conjugar este Dragão que estará na posse do Inimigo com
uma Teoria da Geopolítica/Geoestratégica Americana que defende que o problema
não é perder uma Arma, mas sim é de quem fica com essa Arma (do filme “Operação
Flecha”). Em princípio, estes Dragões virão acompanhados com uma Gárgula[4] que será a minha Guardiã.
Como vimos, a dimensão
destes Dragões é tão grande, que as suas Caudas estão a vigiar todas as Sedes
dos Partidos Políticos. Hoje em dia é preciso ter muito cuidado em todo o lado
por onde andamos e com quem estamos a lidar. Porque sem saber, muitas Pessoas
podem ser queimadas por um destes Dragões, como diz Weber (2005:113): há Pessoas
[Políticos, Governantes, Intelectuais Partidarizados, etc.] a quem falta a Responsabilidade “pelas
Consequências dos seus Actos. Quem assim Age não tem Consciência das Potências
Diabólicas que estão em Jogo”.
Espero que os meus Leitores tenham compreendido as minhas analogias com o Mito dos Dragões, para
tornar a Política Guineense mais interessante e dinâmica. Conto convosco no
próximo post, que sairá muito em
breve.
[1] Caió é a terra do meu Pai. Caió,
pela sua origem e diversidade dos subgrupos étnicos dos Manjacos, pode ser
considerado os ‘Estados Unidos dos Manjacos’, mas muito anterior à própria chegada
dos Europeus à América. Comparativamente
aos Estados Unidos da América «EUA», o povoamento de Caió começou de forma
pacífica com base na concorrência, competência e mérito dos que iam lá
trabalhar sem, contudo, tentar eliminar o anterior ocupante, porque não era
habitado inicialmente. Diferentes Subgrupos dos Manjacos iam explorar a
palmeira [daí advém o nome Ba-Iú que
mais tarde ficou conhecido por Caió. Ou seja, ‘terra di furaduris di palmera’] temporariamente, e depois fixaram-se.
Houve uma Guerra em defesa do Estado/Reino de Caió. A Paz foi estabelecida e
nunca mais se voltou a falar de Guerra [mesmo durante a Luta Armada]. Este é
apenas um pequeno relato da história de Caió que poderá vir a ser desvendada
mais tarde.
[4] As Gárgulas tinham a importante
função de afastar a água das paredes dos edifícios (Templos ou Igrejas), o que
os protegia da erosão e da humidade causada pelo escorrer e pelo gotejar e,
consequentemente, também afastava a água das fundações. A palavra Gárgula
deriva do Latim – Gurgulio – que quer dizer garganta e da palavra francesa Gargouille,
que também significa “garganta” ou “tubo”. Mas, devido à influência gótica na
Idade Média, essas calhas ficaram, muitas vezes, escondidas dentro de Figuras Monstruosas e Animalescas. Acredita-se que originalmente as Figuras Monstruosas, e por vezes Assustadoras, tenham sido criadas para proteger os Fiéis do Mal, prevenindo-os, simultaneamente, que o Mal nunca Dorme (Barreira, 2010: 80-81, 86; Mendes, 2015: 493).
Valeu, Força aí.
ResponderEliminarUm dia tudo dará certo, quando os politicologos assumirem o poder,em vez destes politiqueiros...
Acredito nas suas palavras, mas precisamos de criar um verdadeiro exército de Cientistas Políticos para reduzir esta bagunça de politiqueiros guineenses
ResponderEliminar