Caros
leitores, mais uma vez sejam bem-vindos.
Este post serve de enquadramento para
a minha análise das Crises Internas do
PAIGC que pretendo analisar na próxima publicação deste blogue. Assim,
tentarei estabelecer uma ponte entre
as crises internas na política dos EUA
que levaram ao Bipartidarismo/Bipolarização
do Sistema Político Norte-Americano
e a situação Guineense. Apresentarei
uma proposta de mudança com base nos pressupostos aqui apresentados. Peço-vos
que leiam com muita atenção para
poderem estar preparados para o meu próximo post.
Após
a sua Independência face à Reino
Unido/Inglaterra, os EUA não se tornaram automaticamente um Estado/País Unificado – tratava-se de uma Confederação
de 13 Estados que tinham em vista a sua Independência, uns face aos outros
(bastante semelhante àquilo que é hoje a União
Europeia). Não existia nenhum Presidente
e o Congresso servia apenas para
resolver questões pontuais que fossem do interesse da Confederação. No entanto, quando a Crise Económica se acentuou, começaram a levantar-se vozes a favor
de uma União (Migowski, 2017).
Face
aos problemas sentidos, George
Washington convocou uma Convenção
para criar uma Constituição – nesta Convenção estavam, de um lado, os Federalistas (como George Washington, Benjamin Franklin, James Madison e Alexander Hamilton),
que defendiam a criação de um Poder
Central mais Estruturado que
defendesse os Cidadãos dos Abusos de Poder; do outro lado, estavam os Anti-Federalistas (como Samuel Adams,
Richard Henry e, mais tarde, Thomas Jefferson), que se opunham à criação dos
Estados Unidos e defendiam a Liberdade e Independência dos Estados,
com receio de vir a enfrentar uma nova Tirania.
Os Anti-Federalistas desconfiavam
quer da Centralização Governamental
quer da Acumulação sem limites da Riqueza Privada à custa de um Mercado também sem limites, por que
temiam que o Governo e o Mercado,
uma vez aliados, acabassem por destruir os Fundamentos
da República (Keane, 2009: 290, 306-311).
Estas
Duas Facções deram origem, mais tarde ao Bipartidarismo
‘Bipolarizado’ Americano. Os Federalistas
venceram e os EUA foram criados, com
Duas Câmaras que garantiam a Representação dos Estados, sem eliminar
as suas diferenças: a Câmara dos Representantes seria
proporcional à População dos Estados
e a Câmara do Senado seria formada por Dois Membros de cada Estado, indicados pelos Deputados.
As divisões entre Federalistas e Anti-Federalistas estendiam-se ao Campo Económico – os Federalistas
defendiam um ‘Modelo mais Industrial’,
baseado no investimento em Obras Públicas e Infraestruturas, enquanto os Anti-Federalistas pretendiam um ‘Modelo mais Liberal’, assente no Agronegócio
e no Trabalho de Escravo. “O Choque
entre Hamilton e Jefferson (…) simbolizou não apenas questões que
preocupavam Americanos na Primeira
República, mas as divisões de longo prazo que a Nação precisou sanear no século
XIX: entre Aristocracia e Democracia, Industrialização e
Agrarianismo, e Poder Centralizado e Direito dos Estados. Todas tinham
potencial para dividir a Nação que acabara
de ser Unificada” (Susan Grant,
citada por Migowski, 2017; Keane, 2009: 307).
A
Política Partidária Americana
consolidou-se neste embate em 1795,
depois de se ter criado o cargo de Presidente
através da Constituição,
realizaram-se as Primeiras Eleições.
Venceu John Adams, candidato Federalista, apoiado por Alexander Hamilton. Thomas Jefferson, que se candidatou pelo Partido Republicano-Democrata, que tinha sido fundado [nos inícios da década de 1790] para
disputar as Eleições perdeu, mas o
seu Modelo Económico não foi
perdido. Os EUA passaram a
implementar o Modelo de Alexander Hamilton [Modelo mais Industrial] no seu País, mas o Modelo de Thomas Jefferson [Modelo
mais Liberal] em outros Países, usufruindo assim dos benefícios que o Livre Comércio tinha em quintal alheio – estavam a concretizar,
assim, a ideia de “fazer como os Ingleses
fizeram” (Keane, 2009: 307-310; Migowski, 2017).
Em
1800, Thomas Jefferson acabou mesmo por se tornar Presidente, após um empate
contra Aaron Burr, que foi resolvido
pela Câmara dos Representantes e
pelo apoio explícito/claro de Alexander Hamilton[1],
que influenciou a última votação da
Câmara a favor de Thomas Jefferson. De uma forma surpreendente, os EUA resolveram este Impasse Político de forma exemplar e pacífica, deixando o Mundo
admirado e abrindo espaço para
uma Democracia onde se respeitassem sempre os resultados eleitorais (Keane, 2009: 306-311;
Migowski, 2017).
Os
Partidos Políticos hoje existentes
resultam das Constantes Polarizações
desde a Independência. O facto de
ser um País de Imigrantes, implicava
que nenhum grupo tinha Poder para
implementar a sua agenda, o que poderia levar a fragmentações, se não houvesse
esta aglutinação em Dois Grandes Blocos.
Assim, as diferenças Étnicas, Culturais e Raciais foram aos poucos perdendo espaço diante da Crescente Polarização. Com a União, os Federalistas e os Republicanos-Democratas (nascidos nas Primeiras Eleições), acabaram por se
dissolver, sendo substituídos por Duas
Novas Forças: os Democratas
(herdeiros de Thomas Jefferson, mais
próximos dos Esclavagismos Sulistas
e dos Anti-Federalistas) e os Whigs (herdeiros de Alexander Hamilton, mais próximos dos Antigos Federalistas, dos Industriais do Norte e das Ideias Abolicionistas). Em 1854[2], com as ideias do Fim da Escravidão, do Governo Forte e da Intervenção Económica, os Whigs mudaram o seu nome para Partido Republicano (Keane, 2009:
306-311; Migowski, 2017).
Surpreendentemente,
podemos concluir que:
“Os
Republicanos, portanto, eram
herdeiros de Alexander Hamilton e
defendiam a Industrialização e a Intervenção do Estado na Economia. Como
podemos perceber, a Divisão Ideológica
no século XIX era bem diferente da atual. O Partido Democrata (herdeiros de Thomas Jefferson), por outro lado, tinha as suas Bases Eleitorais no Sul e sua Plataforma
Política era a Defesa da Economia Agrária,
da Escravidão e do Livre-Comércio.” A Abolição da Escravatura constitui um marco na perda da Identidade dos Democratas. Os Republicanos, por sua vez, aproveitaram
o avanço da Industrialização para se
aproximarem do Liberalismo Político
e das Ideias de Thomas Jefferson, usadas para justificar o Imperialismo Americano. Isto acabou por
levar Antigos Conservadores Esclavagistas
a ingressar no Partido Republicano,
abrindo espaço para Lideranças mais Progressistas dentro dos Democratas. A Crise de 1929 consolidou a Posição
Ideológica actual dos dois Partidos – Democratas
& Republicanos – nos EUA (Keane,
2009: 291-389; Migowski, 2017).
O
mais importante neste Duelo foi o que
marcou para sempre as Crises que se seguiram
nos EUA. Ficou famoso, em primeiro
lugar, o juramento de Thomas Jefferson que, em Público, insistia dizer que
não era nem Federalista nem Anti-Federalista. E no entanto, ele e o seu amigo James
Madison trataram (em 1790) de Conquistar o apoio dos jornais para as suas Posições
Políticas. Era uma jogada arrojada que ia de encontro ao Consenso Dominante e
era também um passo gigante no sentido da Institucionalização de uma vida
Política feita de Partidos, tal a conhecemos. Em segundo lugar, foi o Discurso Inaugural de Thomas Jefferson em
1801 como Presidente recém-eleito, em que disse: «venho pedir a vossa
indulgência para os meus próprios erros, os quais jamais serão intencionais, e
o vosso apoio contra os erros dos outros […]; conquanto a vontade da maioria
deva prevalecer em todos os casos […] a minoria é titular dos mesmos direitos,
que uma mesma lei deverá proteger». No fim afiançou que «todos nós somos
Republicanos, todos nós somos Federalistas». Em terceiro lugar, em toda a História da Democracia Representativa,
esta foi pela Primeira Vez em que se viu passar o Poder Governamental de um
Partido Eleito para outro Partido também Eleito sem que houvesse, além disso,
qualquer sublevação violenta (Keane, 2009: 307, 310).
Ainda não chegaram os meus últimos Dragões por causa da chuva, mas os dois primeiros já dão sinais de estarem a intervir.
No próximo post, em princípio, já
terei a equipa completa. Fiquem à
espera!
[1] Infelizmente, Aaron Burr nunca perdoou Alexander Hamilton
por esta tomada de posição que considerou
uma facada nas costas, acabando mesmo por matar Hamilton num Duelo provado, três anos mais tarde (Keane, 2009: 309). Tomara que este Duelo não venha repetir-se na Guiné-Bissau
entre as Duas Alas de que irei falar-vos.
[2] Daí darmos ‘alguma’ razão a Maurice Duverger quando afirma: «de
facto, os Verdadeiros Partidos datam de
apenas há dois séculos. Em 1850
nenhum País do Mundo, com a excepção
dos EUA, conhecia os Partidos Políticos
no sentido moderno da palavra. Havia Tendências
de Opiniões, Clubes Particulares, Associações de Pensamento, Grupos Parlamentares, mas não Partidos
Políticos propriamente ditos». Ainda de acordo com Duverger, «o desenvolvimento dos Partidos Políticos aparece ligado ao desenvolvimento da Democracia, isto é, à extensão do Sufrágio Popular e das Prerrogativas Parlamentares» [favorecidos
supostamente pelo surgimento/funcionamento da Sociologia] (Duverger, 1970, citado por Fernandes, 2010: 188; 2004:
110-114; Mendes, 2015: 360).
Obrigado Doutor
ResponderEliminarDe nada meu caro Poeta e Cientista Político
ResponderEliminarMuito obrigado grande prof.Mas estou muito ancioso para ver o proximo post.
ResponderEliminarEu é que agradeço. Volte sempre ao blogue! Um abraço
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