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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A Importância Da União Política Na Guiné-Bissau


Caros leitores, antes de mais, Boas Festas a todos. Uma vez que me deparo com muitas dificuldades – de tempo, internet e energia - transformo o post de hoje num cabaz especial de Natal, para os meus leitores. No post de hoje vou falar da importância que a União Política pode ter para o bem-estar social, para a paz e segurança dos Guineenses e daqueles que gostam e escolhem a Guiné-Bissau como a sua segunda pátria. Nesta linha de reflexão, vou falar, em primeiro lugar, de um pequeno excerto de Alexis de Tocqueville em relação à importância da Ciência Política para a consolidação da Democracia. Em segundo lugar, vou apresentar uma pequena síntese de trilogia de debate sobre a importância de sermos governados pelas melhores leis ou pelos melhores homens ou ainda por um bom sistema/regime político. Em terceiro lugar, vou dar exemplo de um tipo de Homem com que podemos contar. Em quarto e último lugar, abro a possibilidade de os leitores se posicionarem para o lado que acharem conveniente.

Em primeiro lugar, devo confessar que estou consciente de que as minhas Propostas de Mudança podem abrir algumas frentes de combate, derivadas, principalmente do seu carácter inovador. Possivelmente, pelos seus aspectos positivos, porque trazem uma visão/mentalidade completamente nova da República e da Democracia guineense. Nesta ordem de ideias, tal como Alexis de Tocqueville descobriu uma sociedade nova – “os EUA” – onde vigora um Regime Político Democrático, também descobri e acredito que a Democracia ‘por Intermediação’, como fenómeno social e político, existe; e vou continuar a transmitir aos meus contemporâneos/conterrâneos que esta Democracia constitui inevitavelmente o presente e futuro político da Guiné-Bissau e do mundo, porque veio mesmo para ficar. E para combater a má governação e a instabilidade política da Guiné-Bissau, é necessária uma nova Ciência Política para uma nova visão/mentalidade da cultura política dos guineenses (Mendes, 2015: 550-551).
Em segundo lugar, ilustres leitores, tudo o que estamos a ver até agora não se conquista de Sábado para Domingo, na medida em que é um processo que atravessa vastos campos – político, económico, social e cultural – até constituir uma cadeia de relações de confiança e carisma (desde a família, a escola, os amigos, etc.). No entanto, a Democracia não é suficiente – é preciso perguntarmo-nos se é “preferível ser-se governado pelos melhores homens ou pelas melhores leis”. Platão[1] opta pelo governo dos melhores homens, enquanto Aristóteles abraça o governo das melhores leis. Mas, há quem acrescente que num bom sistema eleitoral, sistema político de governo, sistema de partidos políticos e regime político, mesmo os homens maus podem ser impedidos de fazer o mal. No entanto, quando se aposta nos maus sistemas políticos e regimes políticos, as coisas ficam piores: o mal cresce de forma exuberante e os homens bons são impedidos de fazerem o bem, e pode até acontecer que sejam obrigados a fazer o mal. Na verdade, esta articulação de pensadores – Platão & Aristóteles – complementa-se, isto é, um bom regime político e sistema de governo necessita de boas leis e principalmente de bons líderes, porque, segundo Platão o regime político e sistema de governo podem ser até bons, mas tudo vai depender de quem estiver no seu comando, o que pressupõe que, se o seu líder/chefe (governante) tiver a mentalidade de ditador, o regime político será conotado com a ditadura e o sistema partidário será conotado de monopartidário (Mendes, 2015: 530-531).
Seguindo o mesmo raciocínio, o desafio dos guineenses consiste em encontrar um líder com os traços de carácter que precisam de ser trabalhados. Eu sugeria que constassem do Tratado Político de Governação «TPG» da Guiné-Bissau, as competências exclusivas dos governantes, membros de governo, líderes partidários, decisores, etc., que fossem avaliadas pelas Áreas de Estudos - Órgão Consultivo Multidisciplinar Imparcial «AE-OCMI» (Mendes, 2015: 531).
Em terceiro lugar, para a União Política Na Guiné-Bissau, atrevo-me dizer que é preciso ter em conta a máxima de Jacques Delors acerca de Jean Monnet: «Há duas categorias de homens: aqueles que querem ser alguém e os que querem fazer alguma coisa». Para Jacques Delors, Jean Monnet pertencia por inteiro à segunda espécie, tal como os governantes e políticos guineenses deveriam fazer algo de bom para a Guiné-Bissau. À semelhança de Jean Monnet, parece-me também que uma das formas viáveis de atingirmos esse fim é abraçarmos o método dos pequenos passos, ou seja: começar num sector-chave da União Política dos Guineenses, ou seja, a modernização do sector político como altamente prioritária; alargar paulatinamente o projecto a outros domínios – educação, saúde, justiça, economia, defesa e segurança, energia, cultura; e deixar para o fim a união e modernização dos outros domínios. É esta que deve ser a nossa tarefa como Politicólogos [Cientistas Políticos] que Alexis de Tocqueville referia: imaginar, convencer os mais reticentes, e trabalhar para garantir a unidade, que poderá assegurar para o futuro a paz entre os guineenses. É preciso trabalhar o sistema eleitoral, o sistema de partidos políticos, o sistema político de Governo, a forma do Governo e do Estado, as mentalidades, os discursos e acções dos governantes, da classe política, os decisores e governados guineenses, e colocá-los sob a direcção e fiscalização de um Aparelho do Poder do Estado – AE-OCMI – nunca antes visto. Acredito que, desta forma, a longo prazo, a Guiné-Bissau pode transformar-se numa das Nações mais bem-sucedidas do planeta (Mendes, 2015: 477-478).
A Guiné-Bissau não se construirá de um só golpe por acção de um ‘partido político’ com um mandato de quatro anos, nem por meio de uma solução de fanatismo ideológico baseada nos principais ‘partidos políticos’ com a sua respectiva sede de apoio de Poder, grupos de interesses/pressão e grupos parapolíticos: a Guiné-Bissau há-de fazer-se com passos lentos e seguros, através de realizações concretas, criando, antes de mais, uma solidariedade de facto, desenvolvida num período de amadurecimento político com dois mandatos alargados, sob a tutela da alta autoridade da AE-OCMI, na pessoa de um Pivô Político Excelente – verdadeiro líder – incumbido de uma equipa composta por personalidades independentes, designadas de modo paritário de todas as facetas da sociedade guineense. A União Política na Guiné-Bissau, deve ser encarada como um projecto para unificar todos os cidadãos, políticos e militares guineenses, sem passar pela força das armas. Considero que poderá ser uma oportunidade para – pela primeira vez – os guineenses se agruparem em torno de objectivos comuns, passando por cima das clivagens da política interna da Guiné-Bissau. O impulsionamento dessa União Política de grande envergadura não será tarefa fácil para qualquer guineense; será necessário ter e manter muita fé no ideal abraçado, muito tacto diplomático/político e uma infinita paciência, humildade e discreta tenacidade (Mendes, 2015: 478).
Em quarto e último lugar, caros leitores, para a vossa consideração, é frequente ver estes casos de Jean Monnet – antes e depois dele – com uma mentalidade e visão de “longevidade” da União Política em diferentes cantos do mundo, por parte de partidos políticos e líderes carismáticos: Esta realidade é mais notória nos EUA, onde a esmagadora maioria dos Pais Fundadores da Carta da Independência de 1776-1787 – George Washington, Thomas Jefferson, James Madison, Alexander Hamilton, John Jay – governaram sucessivamente de forma alternada até que a Constituição da República institucionalizasse, de forma sólida, um conjunto de elementos-chave. Hoje em dia, os americanos estão a desfrutar do brilhante trabalho, fruto da União Política dos seus melhores homens. Na Suécia, um partido político governou em coligação durante 40 anos. Hoje podemos dizer que foi com base nas ideias de Ernest Wigforss que a Suécia conseguiu – ao longo do séc. XX – tornar-se num dos países mais prósperos e desenvolvidos do mundo, em termos de eficiência económica, justiça social e de qualidade de vida, incluindo um elevado nível de protecção ambiental. O modelo político sueco[2] (ou nórdico) tem sido muito elogiado, havendo evidências de que os nórdicos serão psicológica e sociologicamente muito igualitários. Em França, Charles De Gaulle teve um papel na origem do Sistema Político de Governo Misto Semipresidencialista – fez a «grande coligação para a União Política dos Franceses», incluindo todos os principais partidos políticos do país, do mais Conservador até ao Partido Comunista, para preparar a reconstrução do país numa fase pós-guerra profundamente traumática; como chefe do Governo, fez abortar o golpe; em três meses, obteve a aprovação de uma nova Constituição e foi eleito Presidente da República «PR» em Dezembro, tendo desempenhado o cargo durante mais de 10 anos seguidos. No Botswana, o Partido Democrático do Botswana “BDP” governou o país desde 1965 até hoje com uma estabilidade política superior à de muitos países europeus. No Senegal, desde 1960 com Leopoldo Sédar Senghor até às actuais lideranças senegalesas, há uma estabilidade política democrática, tal como em Cabo Verde desde a década de 1990 (Mendes, 2015: 474-479).
Para terminar, convido os meus leitores a reflectirem sobre a União Política dos Sul-Africanos e sobre o efeito indiscutível de Nelson Mandela, que teve também a capacidade de unir o seu povo, enquadrando-se na figura de verdadeiro líder[3] político, algo que faz muita falta na Guiné-Bissau (Mendes, 2015: 460-461).


[1] Se os guineenses levarem em consideração que existem ‘boas leis na Guiné-Bissau’, então, o problema deve estar nos homens políticos, tal como argumenta Platão – fiel à sua cidade ideal – que prefere o governo daqueles que são protegidos pelas virtudes (verdadeiro saber e verdadeira razão), que muito naturalmente se colocam num plano superior às leis.

[2] Há, contudo, factores eminentemente políticos que ajudam a explicar o êxito inegável do PSDS: a aliança leal com um ou outro dos partidos ditos burgueses seduzidos para programas de governo reformistas, honestamente negociados e cumpridos; a aliança natural com a maior central sindical blue colar; o investimento maciço do partido e dos sindicatos na comunicação social e no sector editorial. Esta estratégia, muito perspicaz, resultou de forma inegável na Suécia (Mendes, 2015: 476-477).
[3] No plano da liderança política, daí decorre que o líder político terá uma virtude tal «que convide os outros a imitá-lo, que, pelo esplendor da sua alma e da sua vida, se apresente como espelho para os seus concidadãos» (Cícero, 2008: 43-44, 162-163, 255).

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