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segunda-feira, 6 de junho de 2016

Pôr de lado o machado de guerra: homenagem a Carmen Pereira, aproveitamento político da situação e cerco ao Palácio do Governo

Prezados leitores, no post de hoje abordo três pontos da actualidade: o falecimento de Carmen Pereira, a quem presto homenagem (primeiro ponto); o possível aproveitamento político desta situação (segundo ponto) e o perigo do actual cerco ao Governo demitido/barricado (terceiro ponto).
Primeiro ponto. Começo este post prestando homenagem a Carmen Pereira (1937-2016), que faleceu inesperadamente no passado sábado (Público, 05-06-2016). Espero que descanse em paz e envio sentidas condolências para a família. Num post anteriortive a oportunidade de lhe desejar as melhoras e foi um choque receber esta notícia. Morreu numa altura de grande turbulência no país e no PAIGC, no entanto, considero que as divergências devem ser postas de lado – não importa estar a favor da luta armada ou não, ser do PAIGC ou não, ser pró-José Mário Vaz «Jomav» ou pró-Domingos Simões Pereira «DSP». O que importa agora é pôr de lado o machado de guerra, unindo-se para lhe prestar uma homenagem condigna, que dignifique o contributo que deu ao país. Na minha opinião, deve evitar-se a todo o custo que se repita o que aconteceu no dia dos Heróis Nacionais, em que houve uma alternância entre a Fortaleza de Amura e o Cemitério Municipal de Bissau e não uma cerimónia conjunta de todos os guineenses.
Para além de Carmen Pereira, o mundo perdeu também Muhammed Ali «Cassius Marcellus Clay Jr.» (1942-2016), o maior pugilista de todos os tempos, um dos maiores desportistas do século XX, um defensor dos direitos humanos e homem de grande força e coragem, cujo slogan também gosto de usar ("flutuar/voar como uma borboleta e picar como uma abelha"). Estas duas perdas justificaram a minha decisão de abrir um precedente neste blogue – não costumo fazer estas homenagens e não voltarei a fazê-lo de ânimo leve, mas os dois dias em que partiram Carmen Pereira e Muhammed Ali [3 e 4 de Junho] coincidem com a perda das duas primeiras mulheres do meu pai (entre elas, a minha mãe). Que a alma de todos eles descanse em paz.
Segundo ponto. O Governo demitido/barricado do ex-Primeiro–Ministro «PM» Carlos Correia emitiu um comunicado decretando três dias de luto devido ao falecimento de Carmen Pereira (RDP África, 05-06-2016). O Presidente da República «PR» declarou também através de um comunicado que deveria ser organizado um funeral com honras de Estado e decretado o luto nacional (Comunicado da Presidência da República, 05-06-2016). O Governo do PM em exercício, Baciro Djá, emitiu também um comunicado sobre este assunto, prevendo igualmente um funeral com honras de Estado (RTP África, 06-06-2016).
À partida, as três partes estão coincidentes, no entanto, o que não deve acontecer em momento algum é o aproveitamento político da morte de Carmen Pereira para tentar legitimar os seus interesses. Neste caso, o Governo demitido/barricado de Carlos Correia, não estando em funções, deve pôr termo à emissão de comunicados do Conselho de Ministros, respeitando o Governo em funções de Baciro Djá. Embora a sua posição seja compreensível moralmente, em termos de respeito pela lei, estes comunicados não têm validade porque este Governo já não se encontra em funções. Além disso, seria muito indelicado se não participassem presencialmente na despedida a Carmen Pereira, principalmente Carlos Correia e Manuel «Manecas» dos Santos, seus camaradas de luta.
Terceiro ponto. Neste momento, continuamos a assistir a um “cerco” do Palácio do Governo, sendo que o Ministério Público deu, na sexta-feira [04-06-2016], 48 horas para a desocupação das instalações (Voz da América, 04-06-2016). A Guarda Nacional encontra-se do lado de fora do Palácio, impedindo a entrada de qualquer pessoa ou objecto (incluindo comida e bebida), mas deixando o caminho livre para a saída.
Perante isto, importa chamar a atenção para os prós & contras do cerco como estratégia. Tal como eu já tinha dito anteriormente, na política tal como na guerra, “quando cercares um exército [Governo demitido/barricado de Carlos Correia], deixa uma saída livre”. Isto não quer dizer que deixe o inimigo escapar – o objectivo é “fazê-lo crer que existe um caminho para a segurança, assim evitando que ele lute com a coragem do desespero”. Se quiseres «depois, podes esmagá-lo». Segundo os ensinamentos de Sun Tzu, devem acautelar-se três questões: evitar a junção das forças inimigas num mesmo local; atacar o exército inimigo no campo de batalha; e prevenir o cerco de cidades fortificadas. Um cerco prolongado acarreta grandes perigos para quem está a cercar, podendo inverter a vantagem para os que estão cercados (veja-se o exemplo de Hitler quando o seu exército cercou o exército russo de Estaline durante o inverno soviético. Estaline dilatou o tempo até que os alemães ficassem suficientemente fracos por causa do frio, da fome e da saturação para serem vencidos). Neste caso, se o Ministério Público, o Governo de Baciro Djá e a Presidência da República prolongarem o “cerco”, o tiro pode sair-lhes pela culatra. As pessoas que estão cercadas, além de serem apoiadas por alguns veteranos de guerra, têm apoiantes em diversos sectores, nomeadamente nas forças de defesa e segurança, além de estarem numa posição estratégica muito perto de um grande quartel. Por isso, é urgente pôr fim a esta situação de “cerco”. Não podemos tolerar um novo 7 de Junho (como em 1998), em que a Junta Militar se barricou no referido quartel, acabando por sair vitoriosa (Sun Tzu, 2007: 72, 78, 120).

Para terminar, e perante as incertezas que ainda vivemos, deixo uma interrogação no ar: quantos falsos amigos de DSP & Jomav ainda estão por revelar?
Para mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau. Lisboa: Chiado Editora.
E também alguns dos grandes clássicos da estratégia: Sun Tzu (“A Arte da Guerra”), Tucídides (“História da Guerra do Peloponeso”) e Maquiavel (“O Príncipe”).

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