Prezados leitores, no
post de hoje abordo três pontos da
actualidade: o falecimento de Carmen Pereira, a quem presto homenagem (primeiro ponto); o possível
aproveitamento político desta situação (segundo
ponto) e o perigo do actual cerco ao Governo demitido/barricado (terceiro ponto).
Primeiro ponto. Começo este post
prestando homenagem a Carmen Pereira (1937-2016),
que faleceu inesperadamente no
passado sábado (Público, 05-06-2016).
Espero que descanse em paz e envio sentidas
condolências para a família. Num post anterior, tive a oportunidade de lhe desejar as melhoras e foi um choque receber esta
notícia. Morreu numa altura de grande
turbulência no país e no PAIGC, no entanto, considero que as divergências devem ser postas de lado –
não importa estar a favor da luta armada ou não, ser do PAIGC ou não, ser
pró-José Mário Vaz «Jomav» ou pró-Domingos Simões Pereira «DSP». O que importa
agora é pôr de lado o machado de guerra,
unindo-se para lhe prestar uma homenagem
condigna, que dignifique o
contributo que deu ao país. Na minha opinião, deve evitar-se a todo o custo
que se repita o que aconteceu no dia dos
Heróis Nacionais, em que houve uma alternância entre a Fortaleza de Amura e
o Cemitério Municipal de Bissau e não uma cerimónia
conjunta de todos os guineenses.
Para além de Carmen Pereira,
o mundo perdeu também Muhammed Ali «Cassius Marcellus Clay Jr.» (1942-2016), o maior pugilista de todos os tempos, um dos maiores desportistas do século XX, um defensor dos direitos humanos e homem
de grande força e coragem, cujo slogan também gosto de usar ("flutuar/voar como uma borboleta e picar
como uma abelha").
Estas duas perdas justificaram a minha decisão de abrir um precedente neste blogue – não costumo fazer estas homenagens
e não voltarei a fazê-lo de ânimo leve, mas os dois dias em que partiram Carmen
Pereira e Muhammed Ali [3 e 4 de Junho] coincidem com a perda das duas
primeiras mulheres do meu pai (entre elas, a minha mãe). Que a alma de todos eles descanse em paz.
Segundo ponto. O Governo demitido/barricado do ex-Primeiro–Ministro «PM» Carlos Correia emitiu um comunicado
decretando três dias de luto devido
ao falecimento de Carmen Pereira (RDP África, 05-06-2016). O Presidente da República «PR» declarou
também através de um comunicado que deveria ser organizado um funeral com honras de Estado e
decretado o luto nacional (Comunicado da Presidência da República, 05-06-2016).
O Governo do PM em exercício, Baciro Djá,
emitiu também um comunicado sobre este assunto, prevendo igualmente um funeral
com honras de Estado (RTP África, 06-06-2016).
À partida, as três partes estão coincidentes, no
entanto, o que não deve acontecer em momento algum é o aproveitamento político da morte de Carmen Pereira para tentar legitimar os seus interesses. Neste caso,
o Governo demitido/barricado de Carlos Correia, não estando em funções, deve pôr termo à emissão de comunicados
do Conselho de Ministros, respeitando o Governo em funções de Baciro Djá. Embora
a sua posição seja compreensível moralmente, em termos de respeito pela lei, estes comunicados não têm validade porque este Governo já não se encontra em funções. Além disso, seria muito indelicado se não participassem
presencialmente na despedida a Carmen Pereira, principalmente Carlos Correia e Manuel «Manecas» dos Santos, seus camaradas de luta.
Terceiro ponto. Neste momento,
continuamos a assistir a um “cerco” do Palácio
do Governo, sendo que o Ministério Público
deu, na sexta-feira [04-06-2016], 48
horas para a desocupação das
instalações (Voz da América, 04-06-2016).
A Guarda Nacional encontra-se do
lado de fora do Palácio, impedindo a
entrada de qualquer pessoa ou objecto (incluindo comida e bebida), mas
deixando o caminho livre para a saída.
Perante isto, importa
chamar a atenção para os prós &
contras do cerco como estratégia. Tal como eu já tinha dito anteriormente,
na política tal como na guerra, “quando
cercares um exército [Governo demitido/barricado de Carlos Correia], deixa uma saída livre”. Isto não quer dizer que
deixe o inimigo escapar – o
objectivo é “fazê-lo crer que existe um caminho para a segurança, assim evitando que ele lute com a coragem do
desespero”. Se quiseres «depois, podes esmagá-lo». Segundo os ensinamentos de Sun Tzu, devem acautelar-se três questões: evitar a junção das forças inimigas num mesmo
local; atacar o exército inimigo no
campo de batalha; e prevenir o cerco
de cidades fortificadas. Um cerco
prolongado acarreta grandes perigos
para quem está a cercar, podendo inverter
a vantagem para os que estão cercados (veja-se o exemplo de Hitler quando o seu exército cercou o
exército russo de Estaline durante o
inverno soviético. Estaline dilatou o tempo
até que os alemães ficassem suficientemente
fracos por causa do frio, da fome e da saturação para serem vencidos). Neste
caso, se o Ministério Público, o Governo de Baciro Djá e a Presidência da
República prolongarem o “cerco”, o tiro
pode sair-lhes pela culatra. As pessoas que estão cercadas, além de serem apoiadas por alguns veteranos de guerra, têm
apoiantes em diversos sectores, nomeadamente nas forças de defesa e segurança, além de estarem numa posição estratégica muito perto de um grande
quartel.
Por isso, é urgente pôr fim a esta situação
de “cerco”. Não podemos tolerar um novo 7 de Junho (como em 1998), em que a Junta Militar se barricou no referido quartel, acabando
por sair vitoriosa (Sun Tzu, 2007: 72, 78, 120).
Para terminar, e perante as
incertezas que ainda vivemos, deixo uma interrogação no ar: quantos falsos amigos de DSP & Jomav
ainda estão por revelar?
Para
mais informações, consultar o meu livro: Mendes, Livonildo Francisco (2015). Modelo
Político Unificador - Novo Paradigma de Governação na Guiné-Bissau.
Lisboa: Chiado Editora.
E também alguns dos
grandes clássicos da estratégia: Sun Tzu (“A Arte da Guerra”), Tucídides (“História
da Guerra do Peloponeso”) e Maquiavel (“O Príncipe”).
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